Título: Ânimo do exportador cai, diz FGV
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/09/2005, Economia & Negócios, p. B5

RIO - O humor das grandes empresas exportadoras, cujo faturamento com vendas externas supera os 50%, virou. A constatação é de uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Pela primeira vez em 14 trimestres, desde outubro de 2001, a parcela de empresas que prevêem piora na situação dos negócios para os próximos 6 meses supera a das firmas que esperam melhora. Apesar do desânimo, provocado pelo câmbio sobrevalorizado, não devem deixar o mercado internacional. O levantamento da FGV, a que o Estado teve acesso, leva em conta um universo de 75 empresas com receita total de R$ 48,2 bilhões. Em julho, 26% delas indicaram que a situação dos negócios iria piorar no horizonte de 6 meses, contra 24% dizendo que iria melhorar. A metodologia de análise da fundação baseia-se na diferença entre estes dois extremos. São estes que indicam a tendência. Embora próximos, os resultados marcam uma reversão de expectativas, indicadas no último mês de julho.

"Desta vez foi surpreendente a proporção de empresas apostando em piora. É difícil dar resultado negativo", disse o coordenador técnico da sondagem, Jorge Ferreira Braga. Apenas para efeito de comparação, em julho de 2004 a fatia das empresas que apostavam em melhora era de 50% (mais do dobro da atual), enquanto apenas 8% indicavam piora (um terço do número mais recente). Em janeiro de 2004, o patamar das firmas exportadora otimistas era mais forte ainda: 69%.

A pergunta sobre a situação dos negócios é a mais ampla do questionário da pesquisa, porque o empresário, para respondê-la, leva em conta quesitos como demanda, preço, rentabilidade. Para o coordenador da FGV, a piora da análise está ligada ao câmbio baixo.

O vice-presidente da Voith Siemens, Sérgio Parada, conta que a situação "está tão ruim que é difícil achar que vai ficar pior". A empresa, que deve faturar perto de US$ 100 milhões este ano, tem cerca de 80% das vendas nas exportações. Parada confirma a avaliação do coordenador da FGV e diz que está "impossível exportar com este câmbio".

O mercado externo virou prioritário para a empresa, que fabrica turbinas e geradores, por conta da falta de obras e novas usinas no País. "A válvula de escape seria a exportação, mas este câmbio para nós é irreal", argumenta. Para ocupar a capacidade de produção da subsidiária, a matriz do grupo transferiu algumas encomendas de outros pontos para o Brasil. Em paralelo, com o objetivo de amenizar parte dos custos, a empresa passou a importar itens que estão mais baratos no exterior.

O câmbio fraco não afeta da mesma forma todos os exportadores. O impacto é menor para grandes grupos que atuam com commodities, ressalta o estrategista do Banco UBS no Brasil, Marcelo Mesquita. Estas empresas, prossegue Mesquita, ainda se aproveitam de cotações internacionais em alta, atuam com itens em que o País é competitivo e estão financeiramente saudáveis. "A turma que está com o nariz embaixo d'água são os produtores de bens de consumo, que não têm uma marca que permita aumentar o preço à vontade", afirma.

Um retrato mais detalhado da pesquisa, feita com base na coleta de dados para a Sondagem Industrial, mostra melhor o quadro. Os resultados mais negativos para os próximos 6 meses das empresas francamente exportadoras estão nos segmentos de produtos alimentares (-33 pontos, diferença entre os que apostam em piora e melhora), mecânica (-28), madeira (-24), couros e peles (-22), metalurgia (-22), calçados (-21) e têxtil (-18). Nos segmentos de madeira, couros e peles, e produtos alimentares, nenhuma empresa previu melhora dos negócios em seis meses.

"É esta diferença entre os extremos que indica a tendência", explica o técnico da FGV, dizendo que costumam ser desconsideradas as respostas de estabilidade. Braga reconhece que há influência do câmbio baixo sobre a expectativa das empresas. Como os custos avançam mas os valores obtidos em reais acabam ficando menor, a rentabilidade é pressionada. Ele informa que a taxa de ocupação da capacidade deste grupo exportador foi de 88,2% em julho. A taxa é inferior à média das exportadoras nos últimos anos, mas ainda supera a média da indústria geral (84,7%) do País no mês.

O governo já repetiu várias vezes que manterá o regime de câmbio flutuante e que se esforça para reduzir o custo do exportador. O secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Mario Mugnaini Jr., diz que o Ministério do Desenvolvimento trabalha neste sentido.