Título: São Paulo volta à deflação de 0,20%
Autor: Célia Froufe e Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

O custo de vida do paulistano medido pelo Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) encerrou agosto com deflação de 0,20%, depois da alta de 0,30% em julho. O resultado surpreendeu o mercado e a própria Fipe, que projetava inicialmente alta de 0,40%. Como o IPC-Fipe do mês passado ficou abaixo das expectativas, a consultorias econômicas começam reduzir as projeções de inflação para o ano, que agora giram em torno de 4,5%, ante 5% inicialmente. Se as projeções se confirmarem, o IPC-Fipe deste ano será o mais baixo desde 2000, quando o indicador subiu 4,38%.

Até mesmo o coordenador do IPC-Fipe, Paulo Picchetti, admite que há chances de a inflação anual ser menor. "Se eu refizesse a projeção para o IPC-Fipe deste ano, seria para 4,6%, mas as incógnitas sobre o comportamento do petróleo, do câmbio e dos alimentos dificultam a revisão", diz o economista, que ainda mantém a projeção entre 5% e 5,5%.

O mercado, no entanto, arrisca mais. "Reduzimos a projeção do IPC-Fipe no ano de 4,5% para 3,9%, depois do resultado de agosto", diz o economista-chefe da Global Invest Asset Management, Alex Agostini, que projetava deflação de 0,10% para agosto.

"A deflação foi além do que imaginávamos", diz o economista-chefe do Banco Pátria, Luís Fernando Lopes, que reduziu de 5% para 4,5% a estimativa do IPC-Fipe. Também surpreso com o resultado do mês passado, o economista-chefe da Sul América, Newton Rosa, ajustou de 4,5% para 4,4% o IPC-Fipe.

"Essa é a nossa projeção mesmo com taxas gordinhas para o fim do ano", observa o economista, que prevê que o IPC-Fipe fique em 0,25% neste mês.

Essa também é a projeção de Picchetti, da Fipe. Da estimativa de 0,25% para o IPC-Fipe de setembro, 0,15 ponto porcentual já é conhecido. Um dos impactos, de 0,10 ponto porcentual, é proveniente do reajuste dos contratos de assistência médica, que, pela metodologia da Fipe, pressiona a inflação por vários meses.

O segundo está relacionado ao aumento de 9% da tarifa de água e esgoto, que, em setembro, trará um impacto para o IPC de 0,05 ponto porcentual.

Dados da Fipe mostram que o IPC acumula de janeiro a agosto uma taxa de 2,82%, o que significa uma "sobra" de 2,18% de inflação de setembro até dezembro para que o piso da estimativa para o ano (5%) seja atingida. Picchetti calcula que a média mensal da inflação do período seria de 0,54%, mais que o dobro do projetado por ele para setembro (0,25%) e quase 0,20 ponto porcentual acima da média mensal registrada pelo IPC de janeiro a agosto (0,35%).

"Essa taxa média não me parece provável hoje porque é muito alta", observa.

TRIMESTRE

A trajetória de baixa da inflação em São Paulo fez com que o IPC-Fipe registrasse deflação no trimestre. De junho a agosto, o índice ficou negativo em 0,11%. É a primeira vez que o indicador registra deflação num trimestre desde janeiro de 1999, quando houve mudança no regime cambial.

Segundo Picchetti, essa variação negativa dos últimos três meses até agosto será fundamental para que a projeção do ano se concretize perto do piso da estimativa para a inflação de 2005, a menos que alguma variável, como o câmbio ou petróleo, interfira.

Outra marca importante é que o IPC-Fipe até agosto acumula em 12 meses uma alta de 4,95%, a menor variação desde maio de 2004, quando estava em 4,45%. De julho para agosto deste ano, a inflação acumulada em 12 meses teve forte desaceleração. Em julho, o indicador fechou em 6,2%.

"Historicamente, o primeiro semestre sempre mostra taxas menores de inflação do que o segundo, mas este ano havíamos previsto uma inversão desse comportamento", diz Picchetti.

O fator surpresa nos índices de inflação tem sido o comportamento dos preços dos alimentos. Em agosto, por exemplo, os gastos com comida caíram 1,21%, depois de recuarem 0,74% em julho.

"O que chama a atenção é o forte e persistente recuo dos preços dos alimentos", destaca Lopes, do Banco Pátria. Ele observa que, nesse caso, o câmbio ajuda, mas o que pesa mais é a oferta abundante de produtos de consumo doméstico.

O coordenador do IPC-Fipe diz, ironicamente, que há "duas âncoras verdes" agindo sobre a inflação: a oferta do campo e a desvalorização cambial, numa referência à cor das notas de dólar.

Vale destacar que, durante o mês de agosto, ele havia revisado a estimativa para o IPC-Fipe do mês passado para estável, com possibilidade de deflação. "Temos, no momento, duas âncoras verdes, que seguram a inflação, mas, pela volatilidade intrínseca que têm, o câmbio e o setor agrícola podem também vir a atrapalhar a inflação de forma rápida e intensa."

Picchetti pondera que as duas incógnitas - combustíveis e alimentação - podem ainda afetar a inflação de São Paulo. Se houver aumento dos preços do óleo diesel e da gasolina na bomba, o impacto no IPC-Fipe será de 0,60 a 0,70 ponto porcentual.

Em relação à alimentação, Picchetti destacou a volatilidade dos preços dos seus componentes. "Da mesma forma que a queda tem ajudado a inflação até agora, pode ocorrer uma reversão dos preços que atrapalhe o IPC até o final do ano."

IPCA

Hoje, serão conhecidos mais dois índices de inflação que devem confirmar a tendência de baixa. O IPCA do IBGE, usado como referência para as metas do governo, deverá ficar próximo de zero e o IGP-DI deve registrar taxa negativa (deflação).