Título: Bancos públicos rendem mais
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2005, Economia & Negócios, p. B4

Pela primeira vez os bancos públicos conseguiram ser mais rentáveis que as instituições privadas. Levantamento feito pela consultoria Austin Rating, com os dez principais bancos do País, mostra que a rentabilidade média sobre o patrimônio líquido dos bancos estatais ultrapassou a da iniciativa privada no primeiro semestre - 26,1% ante 25,9%. A explicação está no aumento do crédito, crescimento menor dos custos, alta da taxa Selic e queda da inadimplência, informa o presidente da consultoria, Erivelto Rodrigues. "Além disso, esses bancos passaram por um processo de reestruturação para se adequar a sua estrutura e também melhoraram a gestão do negócio."

O lucro dos cinco bancos públicos, no entanto, não ultrapassa o dos privados. De janeiro a junho, eles lucraram R$ 3,476 bilhões ante R$ 7,521 bilhões da iniciativa privada. Mas esses números, quando comparados ao patrimônio líquido, revelam um retorno maior. No primeiro semestre do ano passado, os estatais tiveram um retorno sobre o patrimônio de 20,7% e neste ano, de 26,1%. No caso dos privados, a rentabilidade de 20,8% subiu para 25,9%.

Segundo Rodrigues, o desempenho das instituições públicas foi puxado especialmente pela Caixa Econômica Federal e pela Nossa Caixa. Os dois bancos elevaram consideravelmente os índices de rentabilidade do ano passado para cá. No caso do banco federal (Caixa), o retorno subiu de 20,3%, no primeiro semestre de 2004, para 27,7%.

Já na instituição controlada pelo governo do Estado de São Paulo (Nossa Caixa), a lucratividade saltou de 15,4% para 36% - superior aos índices dos líderes privados Bradesco (30,1%) e Itaú (32,9%).

Com a melhora da economia, a carteira de crédito dos bancos, sejam públicos ou privados, cresceu de forma acelerada, elevou as receitas e turbinou os lucros. No total das dez instituições pesquisadas pela Austin Rating, o estoque de empréstimos e financiamento saltou de R$ 303,138 bilhões para R$ 360,540 bilhões neste ano - aumento de 18,94%.

Nesse aspecto, os privados tiveram desempenho melhor e registraram crescimento de 20% ante 17,5% dos públicos. Mas quando o assunto é receita de crédito, os bancos estatais apresentam maior desempenho: crescimento de 12,9% ante 8,8% da iniciativa privada.

Os bons números do crédito são decorrentes especialmente do sucesso do empréstimo consignado, com desconto em folha de pagamento, afirma o economista João Augusto Salles, especialista no setor bancário, da consultoria Lopes Filho & Associados. De junho do ano passado até agora, essa modalidade cresceu 116,1%.

No Banco do Brasil (BB), por exemplo, o crédito consignado teve um salto de 146% nos últimos 12 meses, completa o analista Ricardo Tadeu Martins, da Corretora Souza Barros, . A rentabilidade do banco subiu de 22,1% para 25,7%.

No caso da Caixa, um dos líderes na liberação do empréstimo com desconto em folha, o aumento foi de 104% no primeiro semestre comparado a igual período de 2004. Além dessa modalidade de empréstimo, a demanda por outras linhas de crédito voltados à pessoa física também registrou aumento significativo, afirma Salles.

Outra justificativa está na carteira dos bancos públicos recheada de títulos do governo, avalia. O economista explica que, com alta da Selic, hoje em 19,25% ao ano, o ganho dos bancos com essas aplicações também subiu. Ele lembra que em 2001 o Tesouro fez a troca de papéis de difícil recebimento por títulos governamentais para sanear o BB e a Caixa.

Rodrigues, da Austin Rating, afirma que a provisão para créditos duvidosos também fortaleceu o aumento da lucratividade dos bancos públicos. Em 2005, a provisão para devedores duvidosos cresceu apenas 1,2% ante 38,9% dos privados. Rodrigues alerta, porém, que provisões menores têm seu lado negativo, pois o índice de inadimplência das instituições públicas é maior que a dos privados.

Mas houve redução dos índices. Nos estatais, a inadimplência caiu de 5,1% para 4,1% e, na iniciativa privada, de 2,7% para 2,4%.

Tadeu, da Souza Barros, completa ainda que a melhora dos números dos bancos estatais está associado a concorrência. "Se não tiverem competitividade, eles perdem espaço no mercado."