Título: Saem do mercado US$ 1,2 bilhão de C-Bonds
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2005, Economia & Negócios, p. B4

O governo anunciou ontem que vai tirar de circulação o estoque remanescente de US$ 1,2 bilhão de C-Bonds que ainda resta no mercado internacional. Mais famoso título da dívida externa brasileira, o C-Bond leva a marca do calote do Brasil da década de 80 porque foi emitido durante a renegociação da dívida, no início dos anos 90. O anúncio da recompra já era esperado pelo mercado internacional depois que o Tesouro concluiu, em julho, uma megatroca de US$ 4,4 bilhões de C-Bonds. Na operação, o Tesouro pagou os investidores com um novo título, o A-Bond, que tem prazo de vencimento em 2018. O valor daquela troca correspondeu a 78% do estoque de US$ 5,6 bilhões de C-Bonds que estava nas mãos dos investidores.

Os US$ 1,2 bilhão remanescentes serão recomprados pelo Tesouro no dia de 17 de outubro. A maior parte dos títulos está nas mãos do Banco Central e do Banco do Brasil, que pelas regras da operação não puderam participar da troca em julho.

O Tesouro tem o direito de recomprar o C- Bond porque esse papel foi vendido com uma cláusula conhecida no mercado financeiro como call. A opção de recompra pode ser exercida nos vencimentos semestrais do papel, toda vez que o C-Bond atingir o nível de 100 centavos por dólar.

O próximo vencimento é em outubro, mas o Tesouro é obrigado a anunciar que vai exercer o direito de recompra pelo menos um mês antes do pagamento. Símbolo da moratória, o C-Bond perdeu nos últimos dois anos o posto de papel com maior liquidez entre os títulos de países emergentes com maior liquidez.

Como é um papel originário de um default, muitos fundos e seguradoras internacionais, por regras próprias, não podem adquiri-lo. O lugar de papel mais negociado foi ocupado pelo Global 40, título brasileiro com vencimento em 2040.

DESBUROCRATIZAÇÃO

O governo quer que investidores estrangeiros aumentem as compras de títulos da dívida interna brasileira. Apesar da crise política, esses investidores têm aumentado sua participação entre os financiadores da dívida, mas o governo espera que esse movimento se intensifique depois que forem anunciadas medidas para desburocratizar o acesso dos estrangeiros ao mercado interno de títulos e ações, segundo disse ao Estado o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, José Antônio Gragnani.

Ele informou que as medidas estão em fase final de análise e serão divulgadas a "curto prazo".

Em novembro, representantes do Tesouro e de instituições do mercado de capitais farão uma apresentação em Nova York para "vender" o País. Para dezembro, estão previstas novas apreentações, em Hong Kong e Cingapura.

A expectativa do governo é aumentar a base de investidores da dívida interna e ampliar a colocação de títulos com taxas prefixadas e prazos de vencimento mais longos.