Título: Empresário recua e nega propina
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2005, Nacional, p. A5

O empresário Sebastião Augusto Buani, dono do restaurante no 10.º andar de um edifício anexo da Câmara, negou ontem que tenha pago propina ao presidente da Casa, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE). "De maneira nenhuma. Não tenho dinheiro para pagar minhas contas, muito menos propina", disse Buani, ao sair do depoimento que prestou a uma comissão de sindicância da Câmara. Anteontem, em entrevista ao Estado, Buani havia prometido apresentar uma testemunha e documentos para comprovar que foi obrigado a pagar propinas a Severino.

Para o deputado, Raul Jungman (PPS-PE), as declarações de Buani "não mudam absolutamente nada". "Mantemos a mesma estratégia."

Ontem, Buani preferiu silenciar quando foi questionado sobre outros possíveis "favores" que tivesse prestado a Severino na época em que este era primeiro-secretário da Mesa Diretora - cargo que corresponde a uma espécie de prefeito da Câmara. O empresário disse que só prestaria informações mais detalhadas na Polícia Federal. Buani procurou se isentar de qualquer responsabilidade pelas denúncias atribuídas a um ex-funcionário seu, Iseilton Carvalho. De acordo com a acusação, publicada pela revista Veja, Buani teria pago um mensalinho de R$ 10 mil por mês a Severino.

Na Comissão de Sindicância, o empresário disse desconhecer qualquer dossiê que incriminasse o presidente da Câmara e que tomou conhecimento do assunto pela imprensa. O depoimento foi tomado por três funcionários da assessoria jurídica da Direção-Geral da Casa e buscava apenas esclarecer se houve alguma irregularidade em seus contratos de cessão de uso pelo espaço que ocupa no prédio anexo da Câmara.

À imprensa, o empresário refutou ainda a denúncia apresentada por Severino, de que tenha tentado chantageá-lo a renegociar a dívida com a Casa, de R$ 113,149 mil, por atraso no pagamento do aluguel do restaurante. "Se o presidente falou isso, ele vai ter de provar", afirmou.

Segundo ele, Severino o recebeu no gabinete apenas "três ou quatro vezes" desde que tornou-se presidente da Câmara, sempre com assessores. Assim, frisa Buani, não haveria como tratar de assunto "tão sério" como tentativa de extorsão.

O diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio diz que não há indício de que Buani tenha sido beneficiado no contrato - o que motivaria a propina. "Seus pedidos de prorrogação de contrato por mais dois anos, quando Severino era primeiro-secretário, foram sempre negados."