Título: 'Quem achou que País sairia do trilho caiu do cavalo'
Autor: Guilherme Evelin
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2005, Nacional, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em discurso na abertura da 39.ª Convenção Nacional de Supermercado, que "caiu do cavalo" quem apostou que a crise política iria contaminar a economia. No pronunciamento, Lula, embora tenha falado a favor da autonomia do Banco Central, defendeu também a redução da taxa de juros nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) por considerar que a "inflação está definitivamente controlada". "Se alguém achou que poderia fazer conflito político, achando que iria acertar a economia e que o País iria sair do trilho, caiu do cavalo, porque a economia está cada vez mais sólida", disse o presidente. Lula reiterou ainda que não cederá às pressões - muitas e intensas, segundo relatou - , para promover mudanças na política econômica como forma de driblar a crise em seu governo.

"A crise política pode prejudicar um, dois, 30 políticos, mas, enquanto eu for Presidente da República, nós iremos enfrentar qualquer situação para não permitir que o nosso querido Brasil sofra qualquer retrocesso com mudanças na política econômica", garantiu. Acrescentou que prefere perder um amigo ou um voto a perder a seriedade

Ao comemorar, na parte do discurso feita de improviso, as conquistas da política seguida pelo Ministério da Fazenda, Lula destacou que os índices de inflação são os mais baixos dos últimos cinco anos. Sugeriu, por essa razão, que os "juros agora têm de entrar numa rota diferentemente da que fez agora", apesar de ter defendido um Banco Central livre de ingerências políticas.

Além do controle da inflação, Lula enumerou como feitos da política econômica o crescimento da indústria, o saldo acumulado de US$ 40 bilhões na balança comercial e a redução da vulnerabilidade nas contas externas. Tudo somado, segundo o presidente, configura "um ciclo de solidez inédito nas últimas décadas da nossa história". "Talvez não seja tudo aquilo que a gente quer, mas é o máximo que a gente já teve nos últimos anos", disse Lula, para quem o Brasil vive o momento mais promissor em 25 anos.

De improviso, Lula foi modesto e admitiu que tem apenas "uma parcelinha de responsabilidade" por esse quadro econômico. Mas, ao ler o discurso escrito por sua assessoria, foi autolaudatório. Chamou de "equivocada" a visão de que o bom momento da economia se deve apenas à conjuntura internacional favorável e o atribuiu a uma estratégia de governo que "trocou o Brasil da inserção da dependência financeira pelo Brasil da inserção soberana e competitiva na economia global".

Nas entrelinhas, aproveitou para lançar críticas na direção do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "Deixamos a posição subalterna e equivocada que via no endividamento crescente e no acúmulo de passivos comerciais um fermento modernizador da nossa estrutura produtiva", atacou.

COBRANÇAS

Mesmo esbanjando otimismo sobre os rumos da economia , Lula ouviu cobranças dos empresários. O presidente da Associação Brasileira de Supermercados, João Carlos de Oliveira, queixou-se da "quase insuportável carga tributária" e reclamou reforma tributária com a uniformização do ICMS cobrado pelo Estados.

Lula respondeu, sugerindo aos empresários pressão sobre os governadores porque o governo federal já teria feito sua parte. "Aceito que façam todas as manifestações contra mim, sem cara feia, porque ninguém cobrou mais no Brasil do que eu", reagiu.

Bem-humorado, o presidente fez trocadilho com o título de "supermercadista honorário" outorgado ao senador Aloizio Mercadante (PT-SP). Disse que seu líder no Senado vai passar agora ser chamado de "supermercadante". Lula circulou depois por stands da convenção e se aproximou dos jornalistas para oferecer bolinhos de peixe. Mas não respondeu a perguntas.

No seu programa semanal de rádio "Café com o Presidente", Lula seguiu a mesma toada. Também exaltou os bons resultados da economia, apesar da "turbulência política".