Título: Doleiro conta como operou para Maluf no exterior
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2005, Nacional, p. A9

Vivaldo Alves, o Birigüi, é o doleiro a quem a Polícia Federal atribui o papel de operador das contas secretas do ex-prefeito Paulo Maluf nos Estados Unidos. Ele fez três depoimentos à PF, entre julho e agosto, esmiuçou remessas que somam US$ 161 milhões para Nova York, denunciou o ex-prefeito e seu filho mais velho, Flávio Maluf, e apontou para os publicitários Duda Mendonça e Nelson Biondi. Com base nos relatos do doleiro, na pilha de 8 mil papéis bancários que a Promotoria Distrital de Manhattan enviou ao Brasil e na escuta telefônica que a Justiça autorizou, a PF quer a prisão de Maluf.

O delegado Protógenes Queiroz, que conduziu o inquérito federal, enquadrou o ex-prefeito pelos crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação fiscal, corrupção ativa e passiva.

SEM PRECEDENTES

À Justiça, o policial requereu formalmente uma ordem para prender Maluf, Flávio Maluf e outro ex-prefeito, Celso Pitta (1997-2000). Queiroz sustenta que os investigados 'pilharam os cofres públicos da Prefeitura de São Paulo'. Ele fala em fraude 'sem precedentes ma história de ilícitos contra o sistema financeiro nacional'.

Chanani, Ugly River e Madson Hill são as contas que o suposto doleiro dos Maluf afirma ter operado no Safra National Bank of New York. Birigüi citou a subconta Eleven, 'número do candidato Maluf em campanha eleitoral'.

Falou da empresa Heritage Finance Trust. 'Transferi, por ordem de Flávio Maluf, mais de US$ 5 milhões para Duda Mendonça', declarou. As transferências teriam sido divididas em parcelas de US$ 840 mil, da Chanani para a Eleven, no Citibank of New York.

'As transferências de recursos para o publicitário foram feitas à época da eleição em São Paulo, Flávio alegava que era dinheiro destinado à campanha de Paulo Maluf', disse Birigüi.

Naquele ano, Maluf foi candidato ao governo do Estado e perdeu para Mário Covas (PSDB).

As remessas também teriam beneficiado o publicitário Nelson Biondi, segundo o doleiro. Foram 7 transferências de US$ 840 mil que somaram US$ 5, 88 milhões. Ele revelou dados sobre a offshore Falcon Composites Ltd., que mantinha conta no Delta Bank Miami.

Flávio era o procurador da Falcon, informou Birigüi. Em 14 de abril de 1998, Birigüi captou US$ 2 milhões da Falcon. O doleiro disse que Flávio tentou convencelo a não depor à PF.

MONITORAMENTO

Os Maluf estão sob monitoramento telefônico há três meses. O teor das conversas de Maluf e Flávio convenceu a polícia de que ambos trabalham intensamente para destruir ou ocultar provas.

O grampo da PF flagrou Flávio e o doleiro marcando encontro no Shopping Iguatemi - o encontro, filmado pela PF, acabou ocorrendo no escritório do advogado do doleiro, na Rua Oscar Freire, Jardins. Na ligação, Flávio chama Birigüi de 'amigo'.

'Não esqueça da nossa conversa, entendeu?', disse Flávio. 'Eu te garanto, entendeu? Te garanto o que conversamos e a forma, entendeu? É o melhor aí pra você. Te garanto. Confia em mim que tenho certeza do que estou falando.' A PF gravou ligações em que Maluf fala do 'chefão', suposta referência ao ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos. O ex-prefeito tentou contato duas vezes com o ministro.

Da primeira vez, em 21 de julho, às 8h42, Maluf deixou um recado. 'É Paulo. São 8 horas e 45 minutos. quinta-feira, dia 21. Teria interesse em bater um papo contigo nesse fim de semana. Seria importante.

Aguardo retorno seu. Um grande abraço do seu amigo Paulo. Tchau.' No segundo, às 19h19 do mesmo dia, Maluf insiste. 'Tenho muito interesse em falar com vossa excelência. É muito importante.'