Título: Democracia acabou com sonho de ser presidente
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2005, Nacional, p. A11

O general Octavio Aguiar de Medeiros pontificou em Brasília num tempo em que a chefia do Serviço Nacional de Informações era a antessala da presidência da República. Enquanto esteve no SNI, acalentou a esperança, perfeitamente cabível, de ser presidente. Afinal, dos últimos três generais-presidentes, dois tinham sido chefes do SNI (Médici e Figueiredo). Deu azar: o governo a que serviu, do general Figueiredo, simbolizou o ocaso da ditadura, já então sitiada pela democracia, que debilitava o poder militarizado por todos os poros. E acabou quatro anos antes, quando a bomba do Riocentro explodiu no colo de dois militares dos esquadrões terroristas da comunidade de informações, os quais tinham linha direta com os hierarcas do SNI - entre os quais, Medeiros.

Na sua gestão, os arapongas oficiais operaram febrilmente para escutar as conspirações em favor da democracia. À medida que a democracia se erguia, o general quatro estrelas que tinha fama de odiar a imprensa (mas que era fonte habitual de jornalistas mais graduados), foi ficando na poeira do tempo. Terminado o governo, assim como aconteceu com Figueiredo, também caiu no esquecimento, provavelmente para seu gáudio.

Pertencia a uma patota da pesada, que deu sustentação à continuidade do famigerado SNI - Emílio Garrastazu Médici, João Batista Figueiredo, Carlos Alberto Fontoura, Newton Cruz e outros menos votados.

Em 1969, como comandante do CPOR da 4.ª Região Militar, presidiu o Inquérito Policial Militar instaurado para acusar um grupo de "terroristas", entre os quais estavam os estudantes de Economia Dilma Vana Rousseff, a "Estela", de 19 anos (hoje ministra-chefe da Casa Civil da Presidência), e José Aníbal, de 21 (hoje vereador do PSDB e presidente da Câmara Municipal de São Paulo). Depois foi adido militar em Israel, entre 1973 e 1975.

Nos últimos anos, fruindo uma aposentadoria melancólica, ainda usava costumeiramente a marca registrada dos generais linha dura, os óculos Rayban que serviam também, segundo conhecidos, para evitar os olhos dos seus interlocutores. Homiziou-se incógnito numa mansão do Lago Sul, em Brasília, de onde saía eventualmente para curtas caminhadas.

Dois casos obscuros marcaram de forma indelével a sua carreira funcional: o misterioso assassinato do jornalista marrom Alexandre Baumgarten, atribuído a grupos da comunidade de informações, e o atentado do Riocentro, do qual se diz que Medeiros tinha prévio e pleno conhecimento.

A democracia ainda lhe permitiu o canto de cisne: no governo Sarney, foi chefe do Departamento Geral de Serviços do Exército. Depois, mais nada.