Título: Mortos em New Orleans podem chegar a 10 mil, diz prefeito
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/09/2005, Internacional, p. A12

O prefeito de New Orleans (Louisiana), Ray Nagin, declarou ontem que o número de mortos na cidade pode chegar a 10 mil. "Agora estamos fazendo alguns progressos", disse Nagin ao programa Today da rede de televisão NBC, e acrescentou que "não seria um disparate calcular cerca de 10 mil mortos". Até agora, autoridades federais, estaduais e locais, destacando a prioridade de prestar auxílio aos sobreviventes, vinham evitando mencionar número de mortos. Oficialmente, foram registradas 234 mortes em cinco Estados. "Quando conseguirmos retirar toda a água de New Orleans, poderemos descobrir as pessoas que morreram presas em suas casas, que foram pegas pela inundação. Pessoas cujos restos serão encontrados nas ruas", declarou o secretário de Segurança Interna, Michael Chertoff. "Essa tragédia se encaminha para um cenário mais horrível do que se poderia imaginar."

Segundo informa o enviado especial do Estado a New Orleans, Paulo Sotero, só numa área da parte baixa do 9º Distrito da cidade, a estimativa é que haja 30 mil pessoas isoladas ainda à espera de resgate. Em toda a área inundada da cidade, estima-se em mais de 50 mil as pessoas nessas mesmas condições.

Mais de 50 mil militares, incluindo 38 mil membros da Guarda Nacional, trabalhavam ontem na cidade para encontrar e resgatar sobreviventes, organizar a saída de refugiados, conter os saques e recuperar os diques destruídos pela passagem do furacão Katrina, no dia 29. Ontem, uma semana depois da chegada do furacão, 80% de New Orleans permanecia inundada (ver área alagada de New Orleans sobre o mapa da cidade de São Paulo).

Porta-vozes do Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA disseram ontem que já tinham completado 84% dos trabalhos de emergência para recuperar um dos diques que continham as águas do Lago Pontchartrain, rompido pela força dos ventos. As obras em outro segmento do dique, também destruído, estavam adiantadas. Mas a previsão dos militares é de que a cidade só estará totalmente drenada em, no mínimo, 80 dias.

Policiais de New Orleans informaram ontem ter matado dois integrantes de um bando armado que atacou uma equipe de especialistas civis contratados pelo Exército para ajudar no reparo de uma ponte na cidade. Outros três integrantes do grupo armado foram feridos por disparos dos policiais e foram capturados. No fim de semana, as forças de segurança mataram cinco saqueadores num tiroteio. "Advertimos que todos os saqueadores e criminosos violentos serão tratados com a força necessária", afirmou ontem o subchefe da polícia de New Orleans, Warren Riley.

A destruição do Katrina espalhou-se também pelos Estados da Flórida, Geórgia, Alabama e Mississippi e milhares de desabrigados foram levados para outros Estados como o Texas, Indiana, Arkansas, Colorado e Novo México - convertendo a passagem do furacão na mais extensa catástrofe natural a atingir os EUA em várias décadas. Só o Texas já recebeu 225 mil desabrigados da Louisiana e outros 85 mil devem chegar nos próximos dias.

Pressionado pelas críticas de que a ajuda oficial demorou a chegar, o presidente americano, George W. Bush, voltou ontem à área da catástrofe, onde esteve também na sexta-feira (ler abaixo).

A ex-primeira-dama e atual senadora (democrata, por Nova York) Hillary Clinton pediu ontem a instauração de uma investigação independente sobre as medidas de precaução e a posterior atuação do governo nas operações de busca, resgate e ajuda aos sobreviventes. "Há crescentes evidências de que nossa nação não estava preparada para enfrentar a emergência", disse.

Os ex-presidentes Bill Clinton e George Bush (pai do atual presidente) lançaram ontem oficialmente o fundo de ajuda para os refugiados do Katrina. Ambos trabalharam no estabelecimento de um fundo semelhante para ajudar às vítimas do tsunami que arrasou vários países da Ásia em 26 de dezembro.