Título: UFRJ chega aos 85 anos e tenta superar contrastes
Autor: Alexandre Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/09/2005, Vida&, p. A24

Criada para servir de modelo para o sistema universitário do País, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o maior centro universitário federal do Brasil, completa hoje 85 anos com muitos contrastes. Apesar da destacada produção acadêmica e científica, a UFRJ concentra laboratórios com tecnologia de ponta e unidades com graves deficiências de infra-estrutura. Dona de boa parte dos melhores cursos de graduação do País, não consegue superar a falta de professores. Além disso, vive uma rotina de dificuldades financeiras. Com quase 50 faculdades e institutos, a UFRJ ainda é uma colcha de retalhos em busca de sua unidade. Batizada inicialmente de Universidade do Rio de Janeiro, ela teve o seu nome modificado em 1937 para Universidade do Brasil. Nasceu da reunião de unidades tradicionais de ensino superior que já existiam no Rio. O nome definitivo só veio em 1965.

A tentativa de unificá-la foi expressa no ambicioso projeto de construção da Cidade Universitária, que nunca foi concluído. Entre 1949 e 1952, nove ilhas da Baía de Guanabara foram unidas por um grande aterro para criar os 4,8 milhões de metros quadrados da Ilha do Fundão. O projeto optou por edifícios monumentais, influenciados pelo movimento modernista, mas restrições orçamentárias fizeram as obras caminhar lentamente - e não tiveram fôlego para ir até o fim.

Hoje, a UFRJ ocupa apenas 30% do território da Ilha do Fundão e possui unidades no campus da Praia Vermelha, na zona sul, e em outros dez edifícios isolados na cidade.

A Ilha do Fundão é um retrato do desequilíbrio causado pela dificuldade do financiamento público, que não acompanha o crescimento da universidade e suas demandas de conservação. O campus que abriga o moderno tanque do Laboratório de Tecnologia Oceânica, da Coordenadoria de Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe), que deu ao País um novo horizonte de pesquisa na exploração de petróleo em águas profundas, é o mesmo em que alunos e professores evitam ficar depois do anoitecer, com medo dos assaltos. Os roubos só diminuíram recentemente, quando parte dos parcos recursos para investimento foram destinados à segurança.

A universidade tem um déficit de R$ 15 milhões no orçamento de 2005. Mesmo com o aumento da receita previsto para 2006, de R$ 67 milhões para R$ 72 milhões, projeta uma insuficiência orçamentária de R$ 41 milhões para o ano que vem.

O reitor Aloísio Teixeira não se faz de rogado ao bater na porta do Ministério da Educação para pedir mais verbas. Ele já comparou a tarefa de administrar a complexa estrutura à de operar milagres. Uma situação, segundo ele, que se arrasta há mais de uma década. Para a diretora da Coppe, Angela Uller, a universidade precisa de um olhar especial.

"A UFRJ é vítima de um modelo de financiamento que se esgotou. Ou somos um orgulho para o Brasil ou alguma coisa está errada."