Título: Brasil melhora pouco no IDH e mantém posição e desigualdades
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/09/2005, Vida&, p. A22

O Brasil melhorou, mesmo que muito pouco, no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) divulgado pelas Nações Unidas. Apesar de continuar na 63ª colocação entre 177 países, o índice, calculado com base em dados de renda, educação e saúde, subiu de 0,790 para 0,792 e coloca o País um pouco abaixo da Rússia e da Malásia e com o mesmo índice da Romênia. Mas, apesar da pequena melhora, o País continua tão desigual como nos anos anteriores. Apenas oito nações conseguem ter diferenças maiores entre pobres e ricos do que o Brasil.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), responsável pelo estudo, usa essas três áreas - analisando a expectativa de vida, a taxa de alfabetização e de matrícula e a renda per capita - para fazer o cálculo. Quando mais próximo a um, melhor a situação do País. Este ano, o IDH foi calculado com base em dados de 2003.

O avanço brasileiro, ainda que pequeno, aconteceu em saúde e educação. A taxa de matrícula subiu de 90% para 91% e a expectativa de vida, de 70,2 anos para 70,5 anos. Já a renda caiu. No cálculo do Pnud, de US$ 7.918 PPP para US$ 7.790 - PPP é a paridade do poder de compra, que calcula não a conversão real, mas quanto se pode comprar com a moeda.

"Neste ano tivemos um crescimento de apenas O,5% do Produto Interno Bruto (PIB). No ano passado chegamos a 4,5%. Isso vai ter um impacto significativo no IDH do ano que vem", disse a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, durante a apresentação do relatório. A possibilidade é real.

O PIB per capita representa um terço do cálculo do IDH. No entanto, o Brasil vai continuar muito para trás em outro indicador, o que mede a desigualdade. De novo o País ficou entre os piores do mundo nesse quesito. É o oitavo mais desigual do mundo e está na companhia de países extremamente pobres, como Lesoto, Namíbia e Suazilândia. Na América Latina, apenas a Guatemala tem um índice pior.

POBRES X RICOS

O estudo do Pnud mostra que os 10% dos brasileiros mais ricos ficam com 46,9% da renda do País, enquanto os 5% mais pobres ficam com apenas 0,7%.

Uma comparação feita pelo Pnud mostra como a situação dos pobres brasileiros é ruim. Apesar de o País ter uma renda per capita três vezes maior do que a do Vietnã, a população mais pobre brasileira consegue ter apenas a mesma renda dos vietnamitas mais pobres.

Uma outra projeção mostra ainda que, se em vez do PIB per capita for usada apenas a renda dos 20% mais pobres, o País cairia 52 posições e ficaria ao lado de Honduras e Bolívia, na 115ª posição.

"A extrema desigualdade limita o crescimento dos Países, o desenvolvimento econômico e até a legitimidade política de alguns governos", disse Ricardo Fuentes, do escritório do Pnud em Nova York, onde foi preparado o estudo.

Apesar dos problemas, o resultado do relatório agradou à ministra Dilma Rousseff. O índice atual deixa o Brasil muito próximo da linha de alto desenvolvimento (0,800), onde estão Argentina, Chile, Uruguai e México.

"Com o impacto do crescimento do PIB, combinado com as políticas sociais do governo, vamos ter um crescimento significativo no IDH no ano que vem, que pode nos levar para o 0,800", disse a ministra. "Temos todas as condições de sair desse limiar e entrar na área de alto desenvolvimento."

Entrar na área de alto desenvolvimento, no entanto, pode significar pouco. No caso brasileiro, significa elevar as médias nacionais de educação, saúde e renda, mas deixar para trás parte da população. Nas taxas atuais de crescimento econômico, de acordo com o Pnud, os 20% mais ricos do Brasil continuam recebendo uma parte da riqueza 30 vezes maior do que os 20% mais pobres.

"É preciso estimular o crescimento em favor dos pobres, para que eles obtenham uma parcela maior da riqueza. No Brasil, se isso fosse feito, o tempo necessário para que a pobreza no País caísse pela metade seria reduzido em 19 anos", disse Lucien Muñoz, representante interino do Pnud no Brasil.

"Sem crescimento um País como o Brasil não consegue suprir as necessidades da sua população, mas apenas o crescimento não é suficiente", reconheceu Dilma Rousseff.