Título: Para PF, depoimento de Mentor é inconsistente e insustentável
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/09/2005, Nacional, p. A10

O deputado José Mentor (PT-SP) confirmou ontem, em depoimento à Polícia Federal (PF), que recebeu R$ 120 mil do advogado Rogério Tolentino, sócio do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser operador do mensalão. Ele disse que o dinheiro foi a título de pagamento de estudos jurídicos prestados pelo escritório Mentor, Pereira e Souza Advogados, do qual é sócio, mas não informou a que se referiam esses estudos, nem tampouco entregou cópia do contrato à PF, alegando que os estudos são protegidos por sigilo profissional.

A PF considerou o depoimento "inconsistente e insustentável", e Mentor poderá ser indiciado por lavagem de dinheiro e corrupção, se ficar comprovado que ele praticou ato de ofício ou omissão, no período em que foi relator da CPI do Banestado, para beneficiar terceiros. Mentor é suspeito de ter favorecido o Banco Rural e Valério.

Ele negou que soubesse que Tolentino era sócio de Valério, quando fez o contrato. Os serviços, segundo informou, teriam sido prestados de maio a julho de 2004 e os pagamentos, feitos em duas parcelas, ambas em Belo Horizonte: uma com cheque de Tolentino e a segunda, com cheque da empresa 2F Participações, na qual Tolentino é sócio de Marcos Valério.

"Só hoje a gente sabe que essa empresa pertence ao sr. Marcos Valério", disse Mentor à imprensa, após o depoimento. O deputado, primeiro da lista de 18 cassáveis relacionados pelas CPIs a ser interrogado pela PF, argumentou que não denunciou o Rural e Valério à CPI do Banestado porque não eram focos de investigação daquela comissão.

Alegou ainda que não aprofundou as investigações do Rural, apontado na época como envolvido num gigantesco esquema de remessas ilegais para o exterior, porque havia um risco de quebra do sistema bancário nacional.

CAMPANHA

Mentor atribuiu as denúncias contra ele a uma campanha difamatória orquestrada pelo senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), que presidiu a CPI do Banestado e com quem se desentendeu.

Diante da insistência para que revelasse o teor do caro serviço jurídico prestado a Rogério Tolentino, Mentor se irritou com os jornalistas: "Não sei quanto custa a sua hora trabalhada. A do meu escritório, eu sei. São estudos jurídicos, e ponto."

Mentor foi acusado por Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária de Valério, de, quando relator da CPI do Banestado, ter dado informações privilegiadas a pessoas e empresas que eram objeto de investigação, entre elas o Rural, em cujo jatinho particular ele teria viajado. Mentor classificou essas acusações de mentirosas.