Título: Delúbio ligou pelo menos 119 vezes para o Planalto
Autor: Diego Escosteguy e Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/09/2005, Nacional, p. A7

Levantamento da CPI dos Correios sobre a quebra de sigilo telefônico dos investigados no escândalo do mensalão mostra as conexões do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza por todo o governo Lula. Os números esmiuçados pela comissão revelam que Delúbio ligou pelo menos 119 vezes para o Palácio do Planalto desde o começo do governo Lula. Desse total, ao menos 59 telefonemas foram para a Casa Civil, quando José Dirceu (PT-SP) era o ministro. O relatório parcial também mostra a influência de Valério no governo. Suas empresas fizeram ligações para pelo menos 20 ministérios, entre eles o da Fazenda. Há pelo menos 12 telefonemas da Tolentino e Melo Assessoria Empresarial, empresa dos sócios de Valério, para números da pasta.

O levantamento registra ainda outras 12 ligações das empresas de Marcos Valério para a Vice-Presidência. No total, foram 284 telefonemas das agências de Marcos Valério para a Presidência, mas quase todos para a Secretaria de Comunicação.

O relatório registra apenas ligações entre telefones fixos dos investigados e órgãos públicos, num universo de 517 linhas investigadas. O levantamento inclui telefonemas de José Dirceu, do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), das agências de publicidade de Marcos Valério, do ex-presidente do PT José Genoino e do ex-secretário-geral do partido Silvio Pereira.

A lista da CPI indica que uma das bases de operações de Delúbio ficava em Goiânia, no escritório da deputada Neide Aparecida (PT-GO). Dali o ex-tesoureiro fazia suas ligações para o Planalto e para quase todos os ministérios.

Os telefonemas de Delúbio para a Presidência começaram em 4 de dezembro de 2002, na transição do governo Fernando Henrique Cardoso para o de Lula, intensificaram-se a partir de 2003 e atingiram o auge no período eleitoral de 2004. A maioria foi para a ex-assessora da Casa Civil Sandra Cabral, uma das responsáveis pela centralização das nomeações políticas no governo: foram pelo menos 20 telefonemas para seu ramal (1942). Outros 39 foram para outros números da Casa Civil.

Duas dessas ligações de Delúbio chamaram a atenção dos integrantes da CPI. Ocorreram no dia 19 de outubro de 2004, mesma data na qual representantes da Portugal Telecom estiveram com o presidente Lula. Uma delas foi para a Casa Civil e outra para a central do Palácio do Planalto. Segundo o deputado Roberto Jefferson, Dirceu teria intermediado a audiência para que a empresa desse dinheiro aos caixas do PT e do PTB, em troca de uma transferência milionária do IRB para o Banco Espírito Santo, que é do grupo.

Delúbio também circulava por outros gabinetes da Esplanada: o levantamento da CPI revela que quase todos os ministérios receberam ligações dele. Dos Correios ele recebeu pelo menos 139 ligações entre 17 de junho de 2003 e 8 de julho deste ano.