Título: Presidente da Câmara na época, Aécio diz que nunca soube de propina
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/09/2005, Nacional, p. A6

Governadores do PSDB e do PFL estão mais cautelosos em relação à proposta de afastamento do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), do que os líderes de seus partidos no Congresso. O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), por exemplo, concorda que o momento é grave, mas, por isso mesmo, acha necessário agir sem pressa, prejulgamento e pré-condenação. Aécio, que presidiu a Câmara em 2001 e 2002, quando Severino era primeiro-secretário da Casa e teria recebido o mensalinho, disse que, em sua gestão, nunca ouviu falar em propina nem sobre acordo com o dono do restaurante. "Não sei do que se trata. Isso não é atribuição do presidente da Câmara."

Sobre Severino, Aécio foi cauteloso. "O estado democrático orienta que todos tenham amplo direito de defesa. Se comprovarem indícios de uso indevido de recursos públicos ou atos ilícitos, obviamente a responsabilização tem que ser absoluta", destacou o governador mineiro, que participou ontem de uma reunião com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, para discutir precatórios, com outros seis governadores.

Aécio disse esperar que Severino tenha argumentos consistentes para ser absolvido. "Acredito que isso é possível."

TRANSPARÊNCIA

O vice-governador de Pernambuco, Mendonça Filho (PFL), acha que a investigação do mensalinho não pode ser coordenada pelo próprio Severino. Ele avalia que o deputado não precisa se afastar do cargo, mas apenas agir com transparência. "Tem de ser uma apuração que satisfaça a opinião pública."

Para o governador da Bahia, Paulo Souto, também do PFL, afastar Severino pode ser uma atitude precipitada. "Até para pedir o afastamento tem de ter mais brasa", disse.

"Quem tem de decidir isso é a Câmara", opinou o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB). "A Câmara não pode ter espírito de corpo e deixar de fazer essa apuração de forma profunda." O mais contundente em condenar um eventual afastamento de Severino foi o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT).

"A tentativa de tirá-lo sem base nem justificativa é coisa séria neste momento. Nós temos de, acima de tudo, preservar as instituições."