Título: Ex-gerente depõe na PF e confirma
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/09/2005, Nacional, p. A5

Em depoimento ontem à Polícia Federal, o ex-gerente administrativo do restaurante da Câmara Izeílton Carvalho de Souza reafirmou que o presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE), recebeu propina de R$ 10 mil mensais, em 2003, para manter a concessão do estabelecimento. Os pagamentos, relatou, eram feitos "ora em envelope, ora em cheque" pela diretora financeira da empresa, Gisele Buani, filha do dono do restaurante Fiorella, Sebastião Buani. Na época, Severino era primeiro-secretário da Casa.

Ao saber da acusação sobre o mensalinho, Severino negou a denúncia com veemência e pediu que a PF abrisse inquérito. Garantiu, ainda, que ele próprio teria sido alvo de chantagem de Buani para manter a concessão do restaurante.

Ontem, após as revelações de Izeílton, Severino passou da condição de autor de denúncia a acusado de corrupção - por isso, a PF vai pedir autorização ao Supremo Tribunal Federal (STF) para prosseguir a investigação, já que, por ser parlamentar, Severino tem direito a foro privilegiado.

No depoimento, Izeílton não entregou provas, mas concluiu que se tratava de propina pelo relato de funcionários que levariam o dinheiro - segundo ele, entregue no gabinete de Severino. O ex-gerente contou que não viu Buani nem Gisele sacando ou empacotando o dinheiro, mas assegurou que, "se for quebrado o sigilo bancário e telefônico desse pessoal todo, a propina vai aparecer".

DOCUMENTOS

O ex-empregado do restaurante da Câmara relatou à Polícia Federal que tinha acesso a documentos no arquivo da empresa. Esses papéis, garante, comprovariam o pagamento da propina e a antiga ligação de Severino com Buani.

Izeílton informou que trabalho no Fiorella por três anos - saiu na semana passada -, período em que teria confirmado a existência do mensalinho. "O pagamento era mensal e entregue lá no escritório do primeiro-secretário."

Pelo menos um dos pagamentos, conforme relatou Izeílton, foi feito ao deputado Gonzaga Patriota, no valor de R$ 20 mil. Ainda conforme o seu relato, os envelopes eram recebidos, no gabinete de Severino, pelas secretárias Russélia e Gabriele.

O ex-gerente assumiu ser o informante das reportagens sobre o mensalinho divulgadas no fim de semana e contou à PF que se encorajou a fazer a denúncia às revistas Veja e Época após presenciar, pela TV, os duros ataques do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) ao presidente da Câmara.

E disse que não tem medo, nem pediu proteção à polícia. "Como tive coragem de fazer a denúncia, espero que a população me proteja", enfatizou.