Título: 61% das vendas são de carro flex
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

Carros bicombustíveis, que rodam com gasolina, álcool ou a mistura de ambos, responderam por 61,7% das vendas de automóveis e comerciais leves em agosto, o maior índice desde o início das vendas de veículos com esse tipo de motor, no primeiro semestre de 2003. Foram vendidos 90.334 veículos com essa tecnologia. No ano, os carros flexíveis respondem por 45,1% das vendas totais do mercado, ou 471,5 mil unidades. Modelos a gasolina ficam com 48,3% das vendas, equivalentes a 505,4 mil unidades. Com os novos lançamentos das montadoras, em breve os bicombustíveis serão maioria no mercado de carros novos.

Para o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb, o Brasil não deve ser afetado diretamente por possível aumento do preço mundial do petróleo em conseqüência do furação Katrina, nos Estados Unidos.

"O Brasil tem uma matriz energética maravilhosa, com possibilidade de abastecimento com gás, gasolina e álcool", afirmou Golfarb, ressaltando que técnicos do mundo todo têm visitado o País para conhecer a tecnologia dos bicombustíveis.

Mas o efeito do Katrina, ressaltou ele, deve ser sentido no preço de matérias-primas como plásticos e resinas, que utilizam petróleo na composição.

ACORDOS

Golfarb mostrou-se preocupado com recente informação de que o Ministério da Fazenda tem estudo defendendo uma redução mais rápida das alíquotas de importações nas negociações da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC). Segundo ele, essa medida é contrária ao que defende a indústria automobilística e os demais setores industriais do País.

"Nós defendemos a redução gradativa das alíquotas, pois a indústria brasileira, apesar dos bons resultados externos que vem obtendo, ainda não tem condições de competir com mercados como China e Coréia", afirmou Golfarb. A redução mais rápida é defendida pelos países desenvolvidos como Estados Unidos e os membros da União Européia.

No bloco dos países em desenvolvimento que querem a redução gradual e com classificações diferenciadas por setores estão Brasil, Argentina e Índia. Essa proposta, segundo representantes do setor industrial, era defendida também pelo Itamaraty, mas o estudo do Ministério da Fazenda, se for adotado, pode pôr em risco a competitividade do País, afirmam empresários.

No caso do setor automobilístico, Golfarb disse que, "para começar a entrar no jogo", o Brasil precisa ter escala mínima de produção de 3 milhões de veículos anuais. O País hoje tem capacidade instalada para 3,2 milhões de veículos, mas vai usar 75% dessa capacidade.