Título: Montadoras esperam seu melhor ano
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

A indústria automobilística terá resultados superiores aos que esperava, embora tenha passado boa parte do ano reclamando dos juros altos e da desvalorização cambial. Diante do desempenho positivo no mês passado, após pequena derrapada em julho, as montadoras refizeram para cima as projeções de produção, vendas e exportações e o ano será o melhor da história do setor no País. Pelas novas contas, a produção será 11% maior que em 2004 e deve totalizar 2,45 milhões de veículos, 110 mil unidades acima da previsão inicial. O salto maior será na exportação, que vai passar de US$ 10 bilhões, um aumento de 29% em relação ao ano passado. Antes, a alta esperada era de 7%.

"Esse crescimento se faz num ambiente de inflação controlada, taxa de risco Brasil na faixa dos 400 pontos, indicação de queda dos juros e, conseqüentemente, de valorização do real", disse ontem o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb, ao divulgar o balanço do setor em agosto.

Segundo o executivo, o resultado esperado para o ano "reflete a situação da economia, que tem demonstrado deslocamento do que ocorre na política". Ele acredita que o setor vá manter as mesmas taxas de crescimento em 2006, mas tudo dependerá da trajetória de queda dos juros e do dólar.

A Anfavea insiste em que as exportações, embora recordes, continuam dando prejuízo às empresas, por causa da desvalorização cambial. "Mostramos competência em trabalhar com custos elevados de insumos e câmbio deteriorado, mas não será possível sustentar essa situação", afirmou Golfarb.

Segundo ele, o aumento das exportações está relacionado ao crescimento da economia de vários mercados, como Argentina, Chile, México e Venezuela, mas não há novos contratos, o que preocupa o setor, cada vez mais pressionado pelos fabricantes asiáticos.

No ano passado, as vendas externas de carros cresceram 48% na comparação com 2003. A Anfavea aguarda resposta do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a um pedido de abertura de linha especial de financiamento às exportações.

O mercado interno também terá desempenho melhor e deve crescer 5%, para 1,66 milhão de veículos, e não os 4% projetados anteriormente. "Ainda é um índice aquém da capacidade da indústria", reclamou o presidente da Anfavea. Ao contrário da produção e das exportações, que serão recordes, o resultado das vendas internas será o quarto melhor da história. Os melhores resultados em vendas foram obtidos em 1995 (com 1,72 milhão de unidades), 1996 (1,73 milhão) e 1997 (1,94 milhão).

Neste ano, até agosto, o segmento de automóveis e comerciais leves acumula crescimento de 11,2% ante igual período do ano passado, com vendas de 1.025.422 unidades. As vendas de caminhões aumentaram 3,1%, para 55.101 unidades. Já os negócios com caminhões apresentam queda de 15%, para 9.975 unidades.

TRATORES

O único dado negativo este ano será o do segmento de máquinas agrícolas, cuja produção deve cair 16,4%, para 48 mil unidades. As vendas serão 36,5% menores e não devem passar de 24 mil tratores e colheitadeiras. A queda dos preços das commodities agrícolas é apontada como principal inibidor do mercado de máquinas agrícolas e não há mais como recuperar a perda, disse o vice-presidente da Anfavea, Persio Luiz Pastre.

O número de empregos cresceu pelo 18º mês seguido e atualmente as montadoras empregam 107,9 mil funcionários, 17.201 a mais que em dezembro de 2004. Só em agosto, quando foram produzidos 217,6 mil veículos, o maior volume mensal já registrado pelas indústrias, foram criados 213 novos postos.