Título: Ipea sobe previsão do PIB para 3,5%
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/09/2005, Economia & Negócios, p. B5

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aumentou a sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,8% para 3,5% este ano e de 3,5% para 4% no ano que vem. A revisão é conseqüência da expansão das exportações e dos investimentos. Ainda assim, o Ipea acredita na possibilidade de a crise política influenciar o desempenho da economia no terceiro trimestre. Depois do crescimento de 1,4% no segundo trimestre ante o primeiro, livre de fatores sazonais, a economia deverá avançar 0,8% no terceiro trimestre em relação ao anterior. Segundo o coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural (GAC), Fábio Giambiagi, isso decorrerá de um recuo da indústria em julho. A crise política também pode criar um efeito "limitado e concentrado no trimestre".

Para Giambiagi, a crise pode levar a uma atitude de "parar para ver (o que acontece)" em alguns segmentos. A projeção para 2005 já inclui esse cenário. As projeções para o ano que vem dependem dos desdobramentos da crise. Se houver "normalização" e a percepção for de que "ficou para trás", o crescimento pode chegar perto de 4,5%. Do contrário, será difícil chegar a 4%.

Giambiagi explicou que, de forma geral, a leitura dos dados da economia é "bastante positiva" e houve uma "recuperação muito mais intensa do que se imaginava" no primeiro semestre. O crescimento do PIB no segundo semestre explica parte das revisões do Ipea. Agora, o instituto projeta um crescimento das exportações de 11% (acima dos 9,4% anteriormente projetados) e de 5,3% para os investimentos (antes eram 4,8%).

O instituto havia previsto que o setor externo (diferença entre exportações e importações de bens e serviços) contribuiria de forma negativa para o PIB, pela primeira vez nos últimos anos. No novo cálculo, o setor volta ao positivo (0,2 ponto porcentual). A maior parte do crescimento (os 3,3 pontos porcentuais restantes) virá, contudo, da demanda interna, principalmente do investimento e do consumo privado.

Como as exportações não vão se ampliar tanto nos próximos anos, o Ipea acha que o crescimento futuro será liderado pelo investimento e é preciso que a taxa sobre o PIB cresça um ponto ao ano. Para isso, os juros reais devem cair, o que requer "conservar os cuidados no campo fiscal e persistir nos superávits primários da ordem de 5% do PIB". O Ipea projeta taxa de investimento de 20,6% para este ano e 21,2% para 2006.

INFLAÇÃO

O Ipea também reduziu de 6,3% para 5,3% a previsão de inflação este ano. A nova estimativa inclui a hipótese de aumento dos preços dos derivados do petróleo. Não fosse isso, Giambiagi acredita que a taxa poderia ficar igual ou pouco abaixo do centro da meta ajustada de 5,1%.

"No terceiro trimestre, o Banco Central quebrou a espinha da inércia da inflação", afirmou, citando que a média dos núcleos (que indicam a tendência recente) ficou em 0,15% na média entre julho e agosto, ante 0,60% nos meses anteriores.