Título: Uma pausa na indústria
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2005, Notas e Informações, p. A3

A indústria brasileira perdeu impulso em julho, depois de quatro meses consecutivos de crescimento, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda de produção, 2,5% em relação ao mês anterior, superou a prevista pela maioria dos consultores econômicos e analistas do mercado financeiro. Há sinais de retomada em agosto, quando as fábricas de veículos produziram 8,9% mais que no mês anterior, as importações de matérias-primas e bens intermediários cresceram 7,1% e a arrecadação de impostos do Estado de São Paulo aumentou 3,7%. Os números foram especialmente surpreendentes depois da divulgação, na semana anterior, do bom desempenho da economia no segundo trimestre. Nesse período, o Produto Interno Bruto foi 1,4% maior que nos três primeiros meses do ano e 3,9% maior que no trimestre correspondente de 2004. Todos os setores cresceram e a indústria foi a locomotiva da economia nessa fase.

Antes de conhecidos os números do IBGE, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) havia mostrado, em sua pesquisa mensal, a redução da atividade em julho. Os números coletados pela entidade em 12 Estados, no entanto, mostravam uma quase estabilidade.

Esse levantamento só inclui a indústria de transformação, enquanto o do IBGE inclui também a atividade extrativa. Além disso, a CNI não coleta diretamente dados sobre o volume produzido, mas informações sobre vendas, pessoal empregado, horas de trabalho na produção, folha de salários e uso da capacidade instalada.

Com base nessa pesquisa, os economistas da CNI concluíram ter ocorrido apenas uma acomodação, "fato natural" depois de "um período de crescimento mais expressivo".

A hipótese de acomodação, apesar dos números abaixo das previsões, ainda é a mais citada pelos economistas. A perda de ritmo da produção pode ter refletido um ajuste natural de estoques. Mas alguns especialistas mencionaram também uma possibilidade mais preocupante: empresários, especialmente do comércio, podem ter decidido reduzir suas encomendas, por precaução, quando surgiram sinais de agravamento da crise política.

Se essa hipótese for correta, empresários podem ter reagido aos primeiros sinais de mudança de humor dos consumidores, detectados depois de algumas semanas de crise.

Os primeiros dados econômicos de agosto, no entanto, parecem mostrar que a redução da atividade foi efêmera. Os números da balança comercial são especialmente animadores, pois mostram uma forte demanda não só de bens intermediários, mas também de máquinas e equipamentos.

Além disso, centenas de empresas pesquisadas pela Fundação Getúlio Vargas confirmaram a disposição de investir mais neste ano que no ano passado. É pouco provável que os empresários, como dizem alguns analistas, estejam apenas mantendo projetos decididos em anos anteriores. As consultas dirigidas ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social apontam o contrário.

A menos que a crise política, a partir de julho, tenha contaminado a economia mais gravemente do que se imaginava até há pouco tempo, o mais provável é que surjam, em breve, novos sinais de reativação da indústria.

Não há razão para supor que as exportações venham a perder dinamismo nos próximos meses. A massa de salários cresceu no primeiro semestre. A inflação baixa continua a contribuir para a valorização do rendimento dos trabalhadores.

Além do mais, é de se esperar para breve o início da redução dos juros. Até a redução da atividade industrial em julho pode contribuir para isso, mostrando aos membros do Comitê de Política Monetária (Copom) que não há risco de explosão da demanda no Brasil.

Há todas as condições para que o crescimento econômico prossiga sem risco para a estabilidade de preços ou para a segurança das contas externas. Politicamente, o País dispõe de instituições bastante fortes para absorver qualquer abalo maior. Se o Copom perder a timidez, as condições para o dinamismo econômico nos próximos meses serão completadas.