Título: Advogado de Saddam parte para o contra-ataque
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2005, Internacional, p. A14

O advogado de Saddam Hussein, Khalil Dulaimi, reiterou que o ex-ditador nunca confessou ter ordenado massacres de curdos e aproveitou para contra-atacar. Dulaimi criticou o presidente iraquiano, Jalal Talabani, um curdo, que há três dias disse que Saddam tinha confessado os crimes durante as audiências prévias do julgamento marcado para 19 de outubro. "Não é possível realizar um julgamento justo e honesto nesta atmosfera, porq ue parece que o veredicto já foi anunciado", disse Dulaimi. "Assim, é inútil exercer qualquer defesa." Talabani garantiu, numa entrevista à TV iraquiana que o ex-ditador admitiu alguns crimes e merecia "20 sentenças de morte". "Ele tentou me matar 20 vezes", afirmou.

Em relação aos possíveis vazamentos de informação sobre o processo - que teriam permitido a chegada de dados aos ouvidos de Talabani -, Dulaimi advertiu que elas violariam os procedimentos. "Se é certo que algum juiz comentou algo da investigação com Talabani, então ele deve ser demitido", declarou.

"O presidente da república não deve fazer declarações de um processo que deve ser mantido em sigilo para assegurar sua justiça", acrescentou. Dulaimi disse ter visitado Saddam Hussein na segunda-feira.

Saddam é acusado de ter ordenado o uso de armas químicas para sufocar revoltas dos curdos no norte do Iraque nos anos 90. O ex-ditador também enfrenta acusações semelhantes em relação aos xiitas do sul do país, durante a Guerra Irã-Iraque, na década de 80.

Dulaimi é o único advogado remanescente da equipe de defesa de Saddam, cujos outros 17 membros foram demitidos em agosto.

Em Washington, após uma nova investigação, a Marinha dos EUA decidiu ontem manter o status de "capturado/desaparecido" para o piloto Michael Scott Speicher, que sumiu no Iraque após partir para uma missão em 1991, durante a Guerra do Golfo. Segundo o relatório, ele pode ter sido feito prisioneiro das forças iraquianas após ejetar-se.

O Exército dos EUA anunciou ontem a prisão ou morte de mais de 250 rebeldes, ao final de uma vasta operação iniciada no mês passado no norte do Iraque, perto da fronteira com a Síria.