Título: Furacão levou popularidade de Bush
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2005, Internacional, p. A12

A insatisfação da maioria dos americanos com o socorro tardio e desorganizado do governo federal às vítimas do furacão Katrina e da inundação de New Orleans fez a taxa de popularidade do presidente George W. Bush desabar a seu ponto mais baixo desde que ele assumiu a presidência. Numa indicação do impacto político do maior desastre natural da história dos Estados Unidos, apenas 41% de 1.157 eleitores ouvidos pelo instituto Zogby disseram que aprovam o desempenho de Bush como presidente. Eram 45% no final de julho e 50% em fevereiro, dias depois de início de seu segundo mandato. A pesquisa foi realizada nos dias 6 e 7, depois que o prefeito de New Orleans, Ray Nagin, estimou o número de mortos em até 10 mil, mas antes de as autoridades confirmarem que solicitaram 25 mil bolsas pretas impermeáveis usadas para a remoção de cadáveres. Apenas 36% disseram que consideram o desempenho de Bush na Casa Branca bom ou excelente, enquanto 60% o classificaram de regular ou ruim. Para 53%, o país está no rumo errado. Uma enquete da CBS mostrou que apenas 32% confiam na capacidade do governo para administrar a crise, menos da metade dos 66% que aprovaram o desempenho de Bush depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

Com a popularidade do presidente americano em declínio, os líderes da oposição democrata abriram ontem as baterias contra a administração e anunciaram que boicotarão uma comissão parlamentar bipartidária dominada por aliados de Bush, que a maioria republicana instituiu para investigar o que até a senadora republicana Susan Collins, do Maine, chamou de "falha imensa" de Washington. A senadora e ex-primeira dama Hillary Clinton, democrata de Nova York e presidenciável nas eleições de 2008, disse que "o governo não pode investigar-se a si mesmo" e pediu a criação de uma comissão nacional independente, nos moldes da que conduziu o inquérito sobre o 11 de Setembro.

"Quanto tempo o presidente dedicou a tratar da crise que se aproximava enquanto estava em férias?", perguntou o líder da minoria democrata no Senado, Harry Reed, de Nevada, referindo-se ao fato de que Bush só retornou a Washington para lidar com a catástrofe mais de 48 horas depois de o furacão Katrina ter tocado a terra, no Golfo do México, e mais de 24 após o rompimento dos diques que inundaram New Orleans. Segundo a líder democrata na Câmara, Nancy Pelosi, da Califórnia, "houve dois desastres na semana passada: primeiro, o desatre natural; segundo, o desastre humano, produzido pelos erros feitos da Fema"- a agência federal incumbida de administrar emergências. Pelosi disse que, num encontro que teve com Bush na quarta-feira, com uma delegacão de congressistas, pediu-lhe para demitir o diretor da Fema, Michael Brown, que não tomou nenhuma medida preparatória de socorro antes do furacão e pediu a seus funcionários para trabalhar para manter "uma imagem positiva" no primeiro memorando de instruções que lhes mandou, quatro horas depois que a tormenta chegou ao litoral da Louisiana e do Mississipi. "Por que eu faria isso?", respondeu Bush, segundo o relato de Pelosi.

Outras reações de conservadores podem ter complicado ainda mais os esforços da Casa Branca para conter os danos políticos da catástrofe. O senador republicano Rick Santorum, um ultradireitista da Pensilvânia, disse que as pessoas que no futuro não acatarem ordens de retirada devem ser multadas - uma declaração no mínimo insensível no momento.

Na mesma linha, o presidente da Câmara dos Deputados, Dennis Hastert, de Illinois, sugeriu que as partes alagáveis de New Orleans não sejam reconstruídas, sem esclarecer como ficarão seus milhares de moradores desalojados.