Título: Vaivém de Buani seguiu estratégia de advogados
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2005, Nacional, p. A4

A mudança de versão do empresário Sebastião Buani tem razões estratégicas. Ao negar, na segunda-feira, o pagamento de propina ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), versão desmentida ontem por ele próprio, Buani seguiu a estratégia de seus advogados de defesa de ganhar tempo para avaliar a evolução do escândalo. O argumento do criminalista Sebastião Coelho da Silva é de que a comissão de sindicância onde Buani depôs inicialmente, aberta pela Diretoria-Geral da Câmara, a pedido de Severino, não era a melhor instância para um depoimento mais detalhado, muito menos para admitir os pagamentos. A Diretoria-Geral investiga apenas a legalidade dos contratos firmados com Buani. Embora a mentira inicial seja um ponto desfavorável para Buani, Sebastião Coelho disse ontem que foi um "despiste". Na segunda-feira, o empresário estava em ambiente dominado por Severino, em uma investigação feita por subordinados dele e prestou um depoimento a portas fechadas. Ao dar entrevista quando deixava a comissão, o empresário preferiu negar tudo. "De maneira alguma. Não tenho direito para pagar minhas contas, muito menos propina", disse Buani. Na terça-feira, porém, foi surpreendido com a divulgação da carta assinada por Severino autorizando a prorrogação do contrato de seus restaurantes por três anos e com dois depoimentos feitos pelo ex-gerente do restaurante Fiorella Izeílton Carvalho. O ex-funcionário falou na noite de segunda a deputados da oposição e na tarde de terça à Polícia Federal.

Diante das provas e do testemunho de Izeílton, a defesa de Buani resolveu agir, mas em circunstâncias decididas pelo empresário.

Organizou-se, então, uma entrevista coletiva em que ele deu sua versão e respondeu a perguntas, sem o constrangimento da presença na Polícia Federal, onde deverá depor na semana que vem. À PF, Buani pretende levar comprovantes do cheque que deu ao deputado e dos saques que fez em dias de pagamento da propina. O empresário insistirá, a partir de agora, na versão de que foi achacado por Severino Cavalcanti, sem chance de recusa. Os advogados vão recorrer à figura jurídica da inexigibilidade de conduta adversa, o que, no direito penal, significa excluir a culpa do acusado, embora tenha havido confissão de um ato ilícito (no caso, o pagamento da propina, o que indica corrupção ativa).