Título: 'É mentira, mentira, mentira', reage Severino
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2005, Nacional, p. A5

O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), negou ontem que tenha recebido propina do empresário Sebastião Augusto Buani. Abalado com as denúncias de que teria recebido mensalinho, uma propina mensal, para prorrogar a concessão do restaurante da Casa em favor do empresário, Severino, depois de muita insistência dos jornalistas, respondeu a pergunta se tinha realmente recebido o dinheiro, repetindo três vezes a negativa: "É mentira, mentira, mentira." Aturdido, ainda tentou ganhar tempo e prometeu para hoje uma resposta para as denúncias. "Eu não vou responder nada agora. Preciso falar com os meus advogados. Mas antes de viajar de volta ao Brasil, dou a resposta. Não posso acreditar em palavra de farsante. Tenho que ver o que foi dito para poder responder", disse.

No dia anterior, Severino chegou a dar três versões para a suposta assinatura prorrogando a concessão de Buani por mais cinco anos em restaurante na Câmara.

Cercado por repórteres e bombardeado por perguntas sobre a possibilidade de sua renúncia ou afastamento do cargo, Severino pronunciou rápidas negativas.

O presidente da Câmara, que se encontra nos Estados Unidos para participar da 2.ª Conferência Mundial dos Presidentes de Parlamento, estava visivelmente preocupado.

Pela primeira vez, ele deu demonstrações de que teme a perda de seu cargo. No início da noite de ontem, Severino, segundo integrantes da comitiva, já admitia a possibilidade de renunciar ao cargo ou pedir licença.

Em telefonemas para parlamentares no Brasil, ele foi informado do teor da entrevista do empresário Buani, na qual este se dizia vítima de concussão praticada por ele, Severino. Além disso, soube da ameaça de obstrução da pauta feita pela oposição.

PELO BANHEIRO

Angustiado, durante uma recepção promovida pelo representante da Bélgica, Severino fugiu pelo banheiro. Contou com ajuda de dois assessores, Ademir Malavasi e Bete Guimarães, que despistaram os jornalistas para que Severino fugisse.

Os três, Severino e os dois assessores, foram, porém, encontrados momentos depois no restaurante The Ambassador, próximo ao hotel.

Durante o almoço, Severino foi surpreendido pelos jornalistas. Na saída do restaurante, tentou, mais uma vez, escapar pelo banheiro com ajuda de Malavasi. Descoberto o plano, iniciou-se, então, uma nova perseguição e cercado por microfones e gravadores o presidente da Câmara desceu a Rua 44, chamando a atenção de todos que passavam.