Título: As duas tarefas da Câmara
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2005, Nacional, p. A6

Duas árduas e complexas tarefas vão desafiar a Câmara dos Deputados nos próximos meses. A primeira será finalizar as apurações dos escândalos que devastaram a República nos últimos quatro meses e adotar punições que satisfaçam às cobranças da sociedade (e não se limitem a um processo de acomodação política inter pares); a segunda será iniciar o processo para uma ampla reforma do sistema político, partidário e eleitoral brasileiro. Por suas delicadas implicações políticas e éticas, essas duas árduas e complexas tarefas vão exigir duas condições básicas. A primeira é que, para que seus resultados se revistam de ampla legitimidade e sejam acatados, a sua execução e a sua finalização devem ter um comando firme e respeitável. O deputado Severino Cavalcanti, que comemoraria os sete meses do momento mais glorioso da sua vida no próximo dia 15, perdeu as condições políticas e éticas de ser esse comandante. A segunda exigência básica é que a execução e finalização dessas tarefas requerem uma ampla aprovação da sociedade ao seu resultado final, sem o qual esse resultado não terá a indispensável legitimidade. E qualquer sintoma de falta de legitimidade compromete a democracia representativa brasileira. Essas questões colocam para os partidos políticos e para os parlamentares brasileiros um desafio: torna-se recomendável que, por um lado, o comandante da nau, o próximo presidente da Câmara, seja escolhido pelo consenso dos homens e dos partidos de bem; e, por outro, que os processos de apuração dos escândalos e reforma do sistema sejam eficazes e transparentes.