Título: Políticos acham situação de Severino insustentável
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2005, Nacional, p. A6

As denúncias, enriquecidas de detalhes, feitas pelo empresário Sebastião Augusto Buani tornaram ainda mais difícil a situação do deputado Severino Cavalcanti como presidente da Câmara. Oposição e base aliada uniram-se ontem na busca de uma solução política para o episódio, depois de Buani ter afirmado, sem rodeios, que pagou propina em troca da prorrogação do contrato de exploração do restaurante da Câmara. O deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) defendeu uma solução partidária negociada. "A partir de agora, é preciso haver um entendimento pluripartidário para que, de forma coletiva, possamos chegar a uma saída rápida e enérgica que preserve a imagem da Câmara", afirmou.

O líder do PT na Câmara, deputado Henrique Fontana (RS), adiantou que pretende pedir uma reunião de emergência do presidente da Câmara, dos líderes partidários e de todos os integrantes da Mesa Diretora para definir rapidamente uma saída para a crise. A renúncia de Severino está sendo mencionada como a hipótese mais viável para a superação do problema. Na avaliação de Fontana, um processo de cassação exigiria um prazo muito longo, de até 90 dias para o julgamento, e o PT não aceita o afastamento temporário de Severino até que as investigações sejam concluídas - isso porque o comando da Câmara passaria para o PFL, o que, no entender dos petistas, não estancaria a crise.

"Devemos ter uma enorme sabedoria política e institucional para não jogar a Câmara em uma aventura", disse o líder do PT. "Temos que passar por um profundo processo de diálogo entre os partidos e espero que, ao longo de quatro dias, todos nós, líderes e presidentes dos partidos, possamos com responsabilidade chegar a uma solução. A situação de Severino é dificílima. As denúncias já eram graves e se tornaram gravíssimas", acrescentou.

O líder tucano Alberto Goldman (SP) tem a mesma opinião. Após assistir à entrevista de Buani, Goldman disse que o presidente da Câmara tem que renunciar. "É decisivo, é definitivo. Não temos mais dúvida nenhuma quanto às responsabilidades dele", afirmou ele.

Goldman acredita que agora é preciso estabelecer os critérios para substituir Severino, e defende um nome escolhido por consenso. "Não é candidato de oposição nem de situação, mas um que possa recuperar a dignidade do Legislativo", argumentou.

O líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), acha que o País deve estar perplexo com as denúncias. Disse esperar que Severino ajude a buscar uma solução, afastando-se o quanto antes do cargo, como foi ser pedido na representação assinada por integrantes de PFL, PSDB, PPS, PV e PDT.

"As acusações foram detalhadas", afirmou Aleluia. "É impossível alguém duvidar da sua veracidade. São provas consistentes para que outros partidos, como o PMDB, o PT e o PSB, endossem a nossa representação."

O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) também acha a situação insustentável: "É evidente que temos de ouvi-lo (a Severino), mas, tirando a hipótese de ele provar cabalmente sua inocência, é indispensável a abertura de um processo para cassar o seu mandato."