Título: Planalto quer desfecho rápido e já articula sucessão
Autor: Vera Rosa e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2005, Nacional, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acha que a solução para o caso do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), precisa ser rápida para não criar um clima de desestabilização política no País. Após ser informado ontem por auxiliares, em Puerto Maldonado (Peru), do depoimento devastador do empresário Sebastião Buani - que acusou Severino de cobrar propina para manter a concessão de restaurante na Câmara -, Lula disse esperar que o processo de investigação não se arraste por muito tempo. Embora o discurso oficial seja de que o governo não vai interferir no imbroglio, nos bastidores o Planalto articula com cautela a candidatura de outro nome da base aliada para concorrer à presidência da Câmara. Em conversas reservadas são citados os deputados Sigmaringa Seixas (PT-DF) e Eduardo Campos (PSB-PE), que foi ministro da Ciência e Tecnologia de Lula. O presidente gosta dos dois.

"Quem elegeu Severino deve pedir desculpas ao País", afirmou o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia. "Aliás, quem elegeu e agora está acusando tem de provar. O candidato do governo à presidência da Câmara se chamava Luiz Eduardo Greenhalgh", completou, numa referência ao deputado do PT que perdeu a disputa para Severino, em fevereiro deste ano.

TURBULÊNCIA

O ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Jaques Wagner, disse que o clima de turbulência não pode se arrastar indefinidamente. "Esperamos que investigações ocorram da forma mais célere possível, com as instituições funcionando, e que os esclarecimentos sejam brevíssimos." Ele insistiu que não estava fazendo prejulgamento de Severino.

No discurso oficial, o governo quer mostrar que não interfere no Congresso; na prática, as consultas para a substituição de Severino já começaram.

"Não recebi orientação do presidente Lula nem para blindar nem para me afastar do Severino", disse Wagner. "Agora, num clima como esse, é recomendável que haja investigação e punição, se constatada a irregularidade, independente de nome, sobrenome ou partido político."

Diante do agravamento da crise alguns auxiliares do presidente aconselharam-no a cancelar duas viagens internacionais previstas para a próxima semana, à Guatemala, a partir de segunda-feira, e a Nova York - quarta e quinta-feiras -, para participar da Cúpula do Milênio, promovida pela Organização das Nações Unidas.

À noite, Lula reafirmou a interlocutores que manteria sua agenda normalmente e cumpriria compromissos internacionais anteriormente assumidos. "Se formos cancelar as coisas por causa da crise, não se faz mais nada aqui", resumiu um interlocutor do presidente. Na manhã de hoje Lula se reúne com a coordenação política do governo para avaliar os efeitos do caso Severino.

Na prática, o governo e o PT estão preocupados com a possibilidade de o PFL conquistar a vaga de Severino. "Não temos interesse que naquela cadeira se sente alguém em guerra permanente com o governo", afirmou um colaborador de Lula.