Título: No Peru, Lula ganha ato de apoio
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2005, Nacional, p. A8

A cerimônia de lançamento da pedra fundamental da Rodovia Interoceânica em Puerto Maldonado, no Peru, transformou-se ontem num ato de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "A você, Lula, digo: coragem! Não tenha medo das pedras no caminho", disse o presidente do Peru, Alejandro Toledo. PT e PC do B mandaram para a cidade 600 militantes, em ônibus contratados pelos dois partidos. A platéia aplaudia Lula a toda hora. Em seu discurso, Toledo fez referência à obra literária de Miguel de Cervantes. Assumindo o papel do cavaleiro dom Quixote, deu a Lula o do escudeiro Sancho Pança: "Eles ladram, Sancho, porque estamos construindo carreteras (rodovias)". Toledo, que está com a popularidade em baixa segundo as pesquisas de opinião, tentou animar também seu colega presidente da Bolívia, Eduardo Rodrigues: "Nossos países estão cheios de esperanças e de crises. Rogo a Deus que na Bolívia prevaleça a democracia".

O presidente do Peru explicou depois por que disse para Lula ter coragem: "Porque nos momentos difíceis, e sei o que são os momentos difíceis, há que ter coragem para superá-los e eu sei que ele tem. É um homem de luta, como eu, temos histórias de vida similares, confrontando problemas da América Latina e é uma palavra de alento de um amigo, colega e sócio".

Toledo disse que confia numa saída para a crise brasileira. "Sei que o presidente Lula vai sair (da crise), que os irmãos brasileiros vão entender que produzir mudanças, incluir os pobres e as minorias, integrar o país e respeitar as diversidades culturais é uma tarefa difícil. Trabalhar pelos pobres, mesmo sabendo que não se vê resultados em curto prazo, é difícil."

Além do apoio de Toledo, dado um dia depois de ter sido vaiado durante as festividades do Dia da Independência, em Brasília, Lula recebeu incentivos públicos de vários outros oradores, entre eles o governador do Acre, Jorge Viana (PT), durante discurso feito para uma multidão de estudantes de primeiro e segundo graus e de adultos de Puerto Maldonado. "A crise brasileira vai passar porque o presidente Lula saberá vencê-la", disse Viana.

Uma platéia formada por integrantes do PT e do PC do B também prestou apoio a Lula. Cerca de 600 militantes dos dois partidos pegaram suas bandeiras, ocuparam 9 ônibus e partiram de Rio Branco, Assis Brasil e Brasiléia rumo a Puerto Maldonado para aplaudir o presidente.

Além do refrão da campanha presidencial de 1989, os militantes gritavam: "Lula é nosso amigo".

O governador do Estado de Madre de Dios, José de la Rosa del Maestro, afirmou que a eleição de Lula significou "a vitória de um operário contra o imperialismo". O Estado de Madre de Dios faz fronteira com o Acre.

OBRA: O presidente Lula não se referiu à crise política no discurso que fez em Puerto Maldonado. Preferiu falar das obras da Rodovia Interoceânica como ponto de partida para a integração latino-americana. Disse que a rodovia - que terá mais de 2.500 quilômetros e ligará Brasil e Bolívia a portos do Peru no Oceano Pacífico - faz parte da integração pensada por Simón Bolívar.

"Esta obra é de grande interesse para o Brasil, o Peru e a Bolívia, porque representa o início da integração de áreas longínquas, sempre esquecidas pelos governantes", disse. "Talvez não estejamos mais vivos quando esta obra for concluída. Mas a História vai registrar que ela começou aqui, neste dia", afirmou, dirigindo-se ao presidente do Peru, Alejandro Toledo. No discurso, Lula mencionou também como grandes defensores da integração latino-americana, além de Bolívar, os brasileiros Euclides da Cunha e Barão do Rio Branco.

Dos US$ 891 milhões que custará a obra, o BNDES vai emprestar U$ 700 milhões. Foram contratadas as brasileiras Norberto Odebrecht, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Camargo Correa.