Título: Dirceu pede para depor na CPI dos Correios
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2005, Nacional, p. A9

O deputado José Dirceu (PT-SP) pediu ontem para depor na CPI dos Correios, argumentando que vai "esclarecer, de maneira clara e inquestionável, todas as inverdades contra ele imputadas". No mesmo requerimento, o ex-ministro da Casa Civil cobra a revisão do relatório parcial da CPI, aprovado na semana passada, que o incluiu na lista de 18 deputados envolvidos no esquema do mensalão. Dirceu afirma que não há provas contra ele e alega que o relatório foi baseado nas "volúveis palavras do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), fruto de uma mente doentia". O advogado José Luis Oliveira Lima disse que, se as reivindicações não forem atendidas, vai entrar com ação por cerceamento do direito de defesa no Supremo Tribunal Federal (STF).

A persistência do ex-ministro em ver seu nome fora do relatório não encontrou respaldo junto ao presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS). "No meu ponto de vista é desnecessário ele vir à CPI porque o foro adequado para ele apresentar a sua defesa é o Conselho de Ética", afirmou. E ressaltou que o ex-ministro já apresentou a sua defesa, por escrito.

Dirceu aproveitou o requerimento para se queixar que o senador Eduardo Azeredo (MG), presidente do PSDB, não foi incluído no relatório parcial. O ex-ministro lembrou que o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza disse, em seu depoimento, que fez empréstimos para financiar, em 1998, a campanha à reeleição do tucano ao governo de Minas. "Por qual motivo não transcreveram e analisaram esse depoimento? Só vale o depoimento do insuspeito deputado Roberto Jefferson? Só valem os trechos parciais contra o requerente (José Dirceu)? Vale tudo contra o ex-ministro chefe da Casa Civil, contra os demais nada vale?"

DISTORÇÃO

Dirceu fez duras críticas ao relatório parcial, aprovado em conjunto pelas CPIs dos Correios e do Mensalão. Afirmou que o relatório é "tendencioso", "distorceu os fatos apurados e produziu um irreal cenário das investigações, impedindo a correta visão das provas".

"As CPIs precisam vir a público para repor a verdade, pois a interpretação corrente evidencia um prejulgamento que interfere no legítimo direito de defesa dos parlamentares citados", prossegue. "Como os integrantes do Conselho de Ética podem enfrentar a opinião pública com um juízo isento, se as CPIs condenaram os parlamentares atendendo ao clamor da sociedade? O clamor da sociedade, muitas vezes, reflete os informes produzidos, gerando linchamento sumário dos inocentes."

Dirceu observou que Renilda Santiago, mulher de Valério, afirmou categoricamente que o seu marido não participou de encontros com a diretoria do BMG e do Banco Rural junto com o ex-ministro. Diz, ainda, que há "uma clara armação para atingi-lo" com a aparição no relatório do nome de Roberto Marques, seu amigo.