Título: Kirchner agora acusa os supermercados
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2005, Economia & Negócios, p. B13

Os supermercados são o alvo atual das críticas do presidente Néstor Kirchner - nesse sentido, se juntam ao Fundo Monetário Internacional (FMI), aos credores privados donos de títulos argentinos em estado de calote, às empresas privatizadas de serviços públicos e aos produtos brasileiros, todos apontados como vilões da inflação argentina. "Pedimos do fundo do coração aos senhores dos supermercados, que têm mais rentabilidade, que vendem mais, que nos ajudem a tomar conta dos bolsinhos das pessoas e que não aumentem os preços... Porque, para eles, as coisas estão indo muito bem, cada vez melhor!", ironizou Kirchner ontem, em cerimônia oficial.

Na véspera, o presidente já havia acusado os varejistas de estarem "abusando". "O governo pode pensar o que quiser. Tal como nós fazemos com o governo", respondeu o representante dos donos de supermercados, empresário Alfredo Coto.

MULTAS

Sem contar com mecanismos para impor um congelamento de preços, Kirchner aplicou multas a três redes de supermercados, por falhas nas etiquetas do produtos, publicidade enganosa ou não cumprimento das ofertas.

O valor da multa, de US$ 60 mil, foi considerado baixo pelos analistas, que destacaram, porém, ser esta a primeira ameaça do governo. Isto quer dizer que, na seqüência, os castigos podem ser maiores.

A ofensiva de Kirchner coincide com a intensa mobilização de apoio aos candidatos dele nas eleições parlamentares de outubro, consideradas cruciais porque definirão o mapa do poder na Argentina pelos próximos 2 anos. Se Kirchner obtiver uma vitória de peso, poderá aspirar à reeleição em 2007.

POPULARIDADE

O presidente está preocupado com a inflação: quanto mais sobem os preços, menor fica a popularidade dele. Já no primeiro semestre, ele liderou pessoalmente uma campanha contra o aumento dos preços dos combustíveis. Na ocasião, incentivou a população a não consumir gasolina da Shell, que havia reajustado os preços.

O movimento reduziu as vendas da multinacional, que teve de voltar aos preços antigos.

Em agosto, a inflação foi de 0,4%. Desde o início do ano, a inflação acumulada foi de 7,6%. O governo calcula que, até o final do ano, ficará entre 8,5% e 10,5%. Os analistas, menos otimistas, acham que ficará acima de 12%.

Segundo o Instituto para o Desenvolvimento Social Argentino (Idesa), a Argentina tem a terceira maior inflação do mundo, com 9,6% acumulados nos últimos doze meses. A Venezuela ocupa o primeiro lugar no ranking, com 15,3%. A Rússia fica em segundo, com 12,5%.