Título: Área plantada de milho tende a aumentar na próxima safra
Autor: Renato Stancato
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/09/2005, Economia & Negócios, p. B20

Na contramão da tendência de queda de área cultivada, esperada para outros grãos, os produtores devem ampliar o plantio de milho na safra 2005/2006. A avaliação é consensual entre analistas agropecuários, que só divergem quanto à extensão que a área plantada irá expandir. O aumento na produção de milho ocorre após a frustração na safra anterior. Em outubro, a Conab previa que a produção total do País atingiria 42,90 milhões de toneladas. Em maio, o número já havia caído para 35,89 milhões de toneladas. O clima adverso provocou uma perda de 16,34% na projeção inicial.

Por conta disso, o analista Glauco Carvalho, da consultoria MB Associados, diz que o milho será uma das exceções num quadro de redução de área para a produção de grãos. Por causa da forte quebra de safra deste ano, a área deve crescer 3%, para 12,2 milhões de hectares na soma das duas safras (verão e safrinha).

Segundo Carvalho, a alta dos preços dos insumos impede um crescimento maior da área plantada. Essa cultura depende muito de fertilizantes derivados do petróleo (os nitrogenados), cujos preços subiram bem no ano passado e tiveram leve recuo este ano, muito mais acanhado do que a queda do dólar. "Afinal, os preços do petróleo subiram em dólar", lembra Carvalho.

Para André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult, o milho deverá registrar um aumento de plantio nesta safra de verão. Pessôa estima que sejam semeados 9,807 milhões de hectares, aumento de 5,4% sobre 2004/2005. A Agroconsult prevê a colheita de 32,2 milhões de toneladas, 17,4% acima do colhido na safra passada. O destaque é o aumento de área por parte de produtores que usam tecnologias mais avançadas. "É simples, a quebra de safra de milho foi muito elevada e isso vai atrair mais plantio", diz o analista.

Mas Pessôa alerta que a escassez de crédito ao produtor poderá inibir a atividade. "Como os produtores estão endividados e a próxima safra indica uma rentabilidade muito apertada, os financiadores vão limitar os recursos", diz. "Afinal, com juros reais de 15% ao ano, fica muito arriscado para quem empresta dinheiro. Por isso, mesmo que o produtor queira manter a área, terá dificuldade em custear a compra dos insumos".

O analista Leonardo Sologuren, da consultoria Céleres, concorda em que o cenário de crédito é complicado, mas observa que os problemas são maiores no Centro-Oeste, segunda maior região produtora de milho. "Os agricultores têm pacotes de financiamento de custeio da indústria de insumos para plantar soja, o que não é o caso do milho", diz.

"Como muitos produtores da região investiram pesado em máquinas e compra de terras, é difícil que tenham recursos próprios para plantar milho". A nível nacional, a Céleres projeta um aumento de 7,1% na área do milho, considerando-se o plantio de verão e o de segunda safra: a projeção é que sejam plantados 12,890 milhões de hectares, ante 12,036 milhões em 2004/2005.

"Há estímulo para o produtor plantar, pois a relação de preços entre a soja e o milho está mais favorável para o milho em muitas regiões", diz Sologuren.

Ele observa que o maior estímulo será no Sul do Brasil, onde tal relação é mais positiva. A região tem produtores de porte menor do que os do Centro-Oeste e está mais próxima dos centros de consumo. "Em regiões de pequenos produtores do Sul, o milho tende a ser um negócio melhor do que a soja", comenta Sologuren.