Título: Preço do álcool subirá a conta-gotas
Autor: Gustavo Porto
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

O inevitável aumento dos preços do álcool hidratado será gradativo para os consumidores e não terá relação com o reajuste dos derivados do petróleo ocorrido na semana passada. Apesar de não haver previsões de porcentuais de aumento, já que o mercado do álcool é livre e tem cerca de 300 fornecedores, as distribuidoras, como sempre fazem, devem repassar aos postos os reajustes dos usineiros. Mas é certo que a alta na demanda pelo álcool hidratado, a chegada do fim da safra canavieira do Centro-Sul do Brasil e o próprio reajuste nos preços da gasolina devem pressionar cada vez mais o preço do etanol. "Eles (os usineiros) vão tentando aos poucos, mas é preciso avaliar quando esse movimento vai dar certo", disse o vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), Alisio Vaz. "Por isso, não dá para prever data ou índices de reajustes do álcool", completou Vaz.

Para Mirian Bacchi, pesquisadora do mercado sucroalcooleiro do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), poucos negócios com álcool no Estado de São Paulo foram feitos nesta semana e apresentaram preços superiores aos da semana passada. Mas, segundo ela, ainda é muito cedo para falar de reajustes.

Na semana passada, ainda sem o reflexo do aumento da gasolina, o álcool anidro subiu 2,4% e o hidratado 1,28% nas usinas paulistas, em média. Mirian destaca que a atual safra de cana-de-açúcar no Centro-Sul, região que concentra mais de 80% da produção e do consumo do País, é mais alcooleira neste ano. O setor produtivo estima que até 53% da cana processada vira álcool e 47%, açúcar, o que aponta para uma boa oferta do combustível. Já a demanda mensal de álcool neste ano na Região Centro-Sul - somados hidratado e anidro misturado à gasolina - está próxima a 1,1 bilhão de litros, ante 900 milhões no mesmo p eríodo de 2004, um aumento de 20%.

O consumo de álcool no Centro-Sul superou 1,15 bilhão de litros e as exportações atingiram 220 milhões de litros em agosto, o que, segundo especialistas do setor, consolida novos níveis de demanda e sustentam o mercado brasileiro. "Há um equilíbrio muito bom nesta safra entre a produção e os mercados interno e externo. Hoje há mercado para exportar mais álcool, mas o dólar baixo e a forte demanda interna favorecem o escoamento da produção aqui", diz Tarcilo Ricardo Rodrigues, diretor da corretora Bioagência.

Rodrigues acrescenta ainda que as exportações ganharam demanda extra dos Estados Unidos entre agosto e começo de setembro, graças à alta nos preços da gasolina em função da alta no petróleo e do furacão Katrina.

Já o presidente da Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, destaca que "há alguns anos as exportações raramente superavam 700 milhões de litros e hoje não dá para imaginar menos de 2 bilhões de litros por safra".

Rodrigues e Carvalho têm opiniões semelhantes em relação ao cenário a partir de agora. Eles avaliam que haverá o aumento gradativo no preço do etanol até o início da safra 2006/2007, em março do próximo ano.