Título: Brasil tem maior taxa real do globo há 1 ano
Autor: Vera Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2005, Economia & Negócios, p. B4

O Brasil está completando o primeiro ano na liderança do ranking mundial dos juros reais. Desde setembro de 2004, quando ultrapassou a Turquia, o Brasil tem as maiores taxas de juros reais (descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses) do globo, hoje em 14,3%. Para o Brasil deixar essa incômoda posição, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) teria de reduzir a taxa básica (Selic) para 11,25% - ou fazer um corte de 8,5 pontos porcentuais, segundo projeção da consultoria GRC Visão.

Portanto, se o Copom cortar hoje a Selic em 0,25 ou 0,5 ponto porcentual, como estima a maioria dos analistas do mercado, não fará grande diferença.

Quando os juros estão altos, os investidores preferem aplicar no mercado financeiro, em vez de abrir ou expandir um negócio. Quanto mais os juros sobem, maior é o retorno das aplicações. É difícil conseguir a mesma rentabilidade em uma fábrica ou empresa. Se os empresários canalizam os recursos para o sistema financeiro, fábricas deixam de ser abertas e empregos deixam de ser criados.

Se o Copom anunciar corte de 0,5 ponto porcentual na Selic hoje, o Brasil ficará com taxa real de 13,8%, muito à frente da China (6,3%), que está em segundo lugar. Na China, os juros altos são efeito de uma política para desacelerar a economia, cujo crescimento chega a 9% do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano. O Brasil tenta aumentar esse crescimento. O PIB brasileiro deve crescer de 3% a 4% neste ano, o mais baixo entre os emergentes. "Com esses juros reais, fica difícil", diz Thiago Davino, economista da GRC Visão.

A redução de 0,25 ou 0,5 ponto porcentual na Selic "não refresca". O custo dos financiamentos cai muito pouco (reportagem acima). Mas o corte tem efeito positivo sobre as expectativas. Ao iniciar o corte de juros, o BC sinaliza que está começando uma temporada de juros em baixa. Isso pode animar empresários a tirar planos de investimento produtivo da gaveta.

A bolsa de valores também deve reagir, antecipando tempos mais favoráveis para as empresas. Com juros menores, a economia se reativa, o consumo cresce e a receita das companhias também. E as ações tendem a subir.