Título: Empresas aderem à preservação e restauro do patrimônio público
Autor: Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2005, Economia & Negócios, p. B14

A conservação de áreas públicas e do patrimônio histórico tem sido bastante abraçada pelas empresas em suas políticas de responsabilidade social. Com isso, as empresas ganham visibilidade, já que podem associar suas marcas às ações de preservação, ao mesmo tempo em que bens públicos antes deteriorados voltam a ter vida, assim como as áreas no entorno. Ainda não há um levantamento preciso sobre o número de empresas envolvidas em programas desse tipo, segundo o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), ligado ao governo de São Paulo e responsável pelos tombamentos no Estado. Mas é fato que as empresas estão fazendo isso de modo criativo.

Além do tradicional patrocínio, entram em cena mecanismos como o seguro de patrimônio e também o uso de recursos das renúncias fiscais, já que as empresas e pessoas físicas podem destinar parte do seu Imposto de Renda para projetos culturais ou voltados à infância e adolescência.

Foi o que aconteceu em São Luiz do Paraitinga, cidade histórica paulista localizada no meio da Serra do Mar. A Capela Nossa Senhora das Mercês, construída no século XVIII, foi completamente restaurada por um grupo de 20 adolescentes aprendizes, integrantes do projeto "Oficina Escola de Artes e Ofícios", da prefeitura local. Os recursos vieram de renúncia fiscal dos funcionários do ABN Amro Real, que destinaram parte do IR para o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA).

Desde 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente permite a destinação desses recursos, tanto por parte das pessoas físicas (até 6% do IR) quanto das jurídicas (1%). Para estimular os funcionários a doarem parte dos seus impostos para projetos sociais, o banco criou em 2002 um programa de adesão, o "Amigo Real", que no ano passado registrou a participação de 34% do quadro de funcionários. A arrecadação foi de R$ 2,1 milhões, que financiaram 23 projetos em todo o País. "No caso de São Luiz, conseguimos unir o restauro do patrimônio histórico à educação profissionalizante", diz Laura Oltramare, superintendente de educação e desenvolvimento sustentável do ABN Amro Real.

De acordo com Ana Paula Queiróz Freski, presidente do CMDCA de São Luiz do Paraitinga, a restauração da capela teve um custo de R$ 108 mil, que envolveu despesas com a restauração e uma bolsa mensal de R$ 70, mais alimentação, para os jovens. "A vocação do município é o turismo, e ainda há muitos imóveis que precisam ser recuperados", diz.

Em Santana do Parnaíba, a 38 quilômetros da capital paulista, a preocupação com o patrimônio histórico levou a prefeitura a firmar um convênio inédito com a seguradora Mapfre Vera Cruz, há dois anos. Na ocasião, foi feita uma apólice coletiva para cobrir 209 imóveis históricos, tombados pelo Condephaat, dos riscos de incêndio, vendaval, queda de raios e aeronaves. A cobertura não previa indenização em dinheiro em caso de sinistro, mas a recuperação do imóvel , que seria feita pela Oficina Escola de Artes e Ofícios. O projeto, semelhante ao de Paraitinga, é responsável pela capacitação de jovens carentes na restauração do patrimônio histórico da cidade.

"O valor histórico dos imóveis é a principal dificuldade para fazermos esse tipo de apólice", explica Roberto de Oliveira, superintendente de multi-riscos da Mapfre Vera Cruz. "No caso de Santana do Parnaíba, a existência da Oficina Escola e sua qualificação em restauro nos deu segurança para fazer o seguro", explica. Agora, a prefeitura negocia com a seguradora a renovação da apólice, avaliada em R$ 42 milhões. Para isso, está revendo as condições de segurança dos imóveis. "Temos interesse na renovação, uma vez que a empresa ganhou muito em termos de imagem com o convênio", afirma Oliveira.

MEIO AMBIENTE

Na capital, o Shopping Villa Lobos "adotou" uma área verde de 100 mil metros quadrados, a maior já assumida pela iniciativa privada na cidade. "Quando o shopping foi inaugurado, há quatro anos, nos deparamos com a área do entorno bastante degradada", diz Consuelo Gradim, gerente de marketing do shopping. O centro de compras fez então uma parceria com a subprefeitura de Pinheiros e hoje patrocina 11 jardineiros, que se dedicam à manutenção e limpeza das áreas. Com o tempo, mais áreas foram adotadas , incluindo praças e os canteiros da Marginal Pinheiros.

Segundo Consuelo, o investimento na iniciativa, de cerca de R$ 15 mil mensais, tem valido a pena. "Recebemos um retorno muito positivo dos clientes do shopping e da comunidade", diz. "Muitos nos procuram para oferecer sementes e mudas de plantas. Outros pedem que adotemos mais áreas em outras regiões da cidade."