Título: Ex-deputada vive um dia de vingança contra seu 'carrasco'
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2005, Nacional, p. A9

O passado e o presente de duas CPIs se misturaram nos corredores do Congresso. Cassada há dez anos por recomendação da CPI do Orçamento, a ex-deputada Raquel Cândido (PTB-RO) não se conteve e chorou copiosamente após assistir ao melancólico depoimento do ex-deputado José Genoino, apontado por ela mesmo como seu carrasco. "É a justiça divina. Ele foi meu acusador e trocou a cassação do meu mandato pelo mandato do Fiúza (deputado Ricardo Fiúza, do PP-PE) e agora está na cadeira dos réus", gritou. Ela parecia sair de uma sessão de exorcismo. Via a mão divina na situação vivida pelo ex-presidente do PT. Mãos erguidas para o alto, lágrimas nos olhos, Raquel ajoelhou-se e gritou: "Deus é justo e fiel e Genoino está pagando o que plantou."

Para Raquel, Genoino merecia passar pela mesma via-crúcis que ela teve de superar. Entre soluços, ela contou que foi acusada injustamente - segundo a CPI, teria roubado R$ 1 milhão do orçamento da União.

Cassada em 1992, Raquel tornou-se inelegível por oito anos. Conta que foi absolvida nos tribunais, mas ainda assim guardou mágoa do algoz. Quando soube que Genoino estaria "no banco dos réus", deslocou-se da cidade satélite de Planaltina, onde mora na favela de Arapongas, com quatro filhos, para a sessão da CPI do Mensalão.

"Minha vida acabou. Me acusaram de roubar um milhão, mas cadê? Eu sou pobre e moro em favela. Eu sei que eu não roubei. Mas Genoino já era um vendilhão desde quando era de esquerda. Do olho de Deus não se escapa", vaticinou.

A ex-deputada disse que a sua cassação foi fruto de acordo entre os líderes partidários. Mas, segundo ela, ninguém foi tão cruel como Genoino.

Para Raquel, a justiça divina só ficará completa com a cassação da deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ) . "Eu ainda vou vê-la na CPI."