Título: Banco Rural compromete Dirceu
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2005, Nacional, p. A10

Em depoimento ontem à sub-relatoria de movimentações financeiras da CPI dos Correios, a presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, disse que o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza intermediou três encontros de dirigentes da instituição com o ex-ministro da Casa Civil, deputado José Dirceu (PT-SP). Segundo ela, as reuniões foram para tratar da liquidação do Banco Mercantil de Pernambuco, do qual o Rural detém 22%. Dois encontros foram com ela e outro com seu pai, Sabino Correia Rabello. "O Valério foi um facilitador para interlocução do Rural junto a várias pessoas para tratar do Mercantil. E uma das pessoas foi Dirceu", afirmou. "O ministro foi a única pessoa com a qual conversei sobre esse assunto no governo."

Kátia garantiu que não conversou com Dirceu sobre os empréstimos tomados no Rural, por Marcos Valério, para o PT. "Em nenhum momento tratamos das dívidas", disse. Ela disse que cobrou os empréstimos de Valério e de Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do PT.

APARTAMENTO

Acompanhada da vice-presidente de Suporte Operacional do Rural, Ayanna Torres, Kátia reconheceu que o empréstimo de R$ 42 mil para Maria Ângela Saragoça, ex-mulher de Dirceu, comprar um apartamento fugiu ao perfil de operações. "Não faz parte do nicho do Rural crédito imobiliário."

Em sua opinião, o dinheiro deve ter sido emprestado por ordem de José Augusto Dumont, que dirigiu o Rural até fevereiro de 2004, quando morreu em acidente automobilístico. Foi ele também, segundo Kátia, quem autorizou os empréstimos e teria conhecimento de que o dinheiro era para o PT. "Só soube que os recursos iam para o PT depois da sua morte."

Em quase cinco horas de depoimento, Kátia admitiu que as garantias dadas por Valério para tomar emprestado o equivalente hoje a R$ 55 milhões foram "frágeis". Mas argumentou que o empresário tinha movimentação grande - R$ 525 milhões em cinco anos. "Infelizmente tenho muito pouca esperança de receber a totalidade desse dinheiro."

O depoimento de Kátia não convenceu a CPI. "Está claro que foram dados esses empréstimos com a perspectiva de uma aproximação com o governo", disse o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). "Ela ia conversar com o José Dirceu e não falava nada dos empréstimos. Não dá para acreditar", emendou ACM Neto (PFL-BA).

CONSELHO

Os deputados Aldo Rebelo (PC do B-SP) e Eduardo Campos (PSB-PE) defenderam ontem Dirceu no Conselho de Ética. Arrolados como testemunhas de defesa, disseram jamais ter presenciado atos que desabonem sua conduta. Eles ressaltaram, ainda, que nem o Conselho nem as CPIs conseguiram provar a existência do mensalão e afirmaram jamais terem visto Delúbio na Casa Civil.