Título: 'Le Monde' conjuga em sua capa o verbo 'malufar'
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2005, Nacional, p. A12

Os Maluf (Paulo e seu filho Flávio) ganharam direito à primeira página do jornal Le Monde. E a um título intrigante: "Por ter 'malufado' (malufé) demais, os Maluf estão na prisão". Para um francês, o título é enigmático porque o verbo "malufer" não existe por aqui e não diz nada a ninguém. Mas a jornalista Annie Gasnier explica a brincadeira do título (ao menos em português do Brasil) pois, diz ela, o verbo "malufer" significa, nesse idioma, desde 1970, roubar os cofres públicos. Segue-se um resumo da carreira de Paulo Maluf. As suspeitas teriam começado em 1970 depois que Maluf foi nomeado prefeito pela ditadura, teve a idéia barroca de oferecer um Fusca a cada um dos campeões da Copa do Mundo de futebol, com dinheiro público.

Depois, as técnicas de Maluf só fizeram crescer e melhorar. E o dossiê é tão volumoso que Paulo, e depois Flávio, se entregaram à Polícia Federal. As acusações principais foram tentativas de intimidação de testemunhas, corrupção passiva, evasão de divisas, formação de quadrilha, reunidas em um dossiê de 8 quilos. O delegado Queiroz concluiu seu trabalho com esta frase seca: "Uma fraude imensa e sem precedente em toda história de roubo de dinheiro público." O detalhe é perturbador: US$ 500 milhões circulando no exterior em contas de membros da família Maluf .

A jornalista explica como se faz para fraudar à maneira de Maluf. Superfaturam-se contratos de obras públicas e as quantias desviadas são enviadas ao exterior por um doleiro.

Le Monde estima que Maluf, com 74 anos, deverá se beneficiar de prisão domiciliar. Além disso, seus advogados devem obter rapidamente liberdade provisória por habeas-corpus.

Com todo o destaque que merecem, será que o verbo "malufer" vai entrar no idioma francês com o sentido de roubar os cofres públicos? Depois de figurar na primeira página do Le Monde, seria um novo progresso na escala da celebridade.