Título: Maluf será investigado por tráfico de influência
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2005, Nacional, p. A12

A juíza federal Silvia Maria Rocha, que decretou a prisão de Paulo Maluf e de seu filho mais velho, Flávio, mandou investigar suposto tráfico de influência do ex-prefeito em favor da Eucatex - empresa da família Maluf - em repartição da Justiça estadual. A suspeita é que Maluf foi beneficiado por uma servidora do Judiciário que teria praticado crime de prevaricação. A base da apuração é um diálogo que a Polícia Federal interceptou entre Maluf e um advogado da empresa, no qual o ex-prefeito faz referência à servidora que estaria retendo uma petição "a respeito de questões jurídicas da Eucatex". A conversa gravada pela PF durou 8 minutos, entre 10h38 e 10h46 da manhã de 15 de julho. Para a PF, o teor do diálogo sugere que Maluf estaria agindo para tentar favorecer a Eucatex, corrompendo a servidora. O advogado, que se identifica por José, fala de uma reunião e do "risco grande de a juíza" despachar uma questão sobre um fundo de pensão. O advogado cita existência de petição exigindo posicionamento "da juíza". Depois, afirma a Maluf que "isso está sendo seguro no cartório por aquela moça que gosta de você". Maluf pede encontro com outros dois advogados "para saber da possibilidade de se fazer uma gestão em Brasília para segurar ou fazer com que ela (a juíza) julgue rápido aqui a nosso favor".

A investigação sobre o empenho de Maluf nos bastidores do Judiciário foi ordenada junto com o decreto que o mandou para a prisão federal. A juíza anotou que "há nos autos prova da existência de crime e indícios de autoria indicando a movimentação internacional de montante expressivo de dinheiro através de diversos países e instituições financeiras". Segundo Silvia Rocha, "verifica-se nos diálogos gravados, inegavelmente, uma série de manobras por parte de Maluf e Flávio para interferir na colheita, produção e resultado da prova". A juíza avalia que "essa interferência está sobejamente demonstrada, revelando, de forma inequívoca, que ambos (Maluf e o filho), se em liberdade, comprometerão a instrução processual podendo concretamente tumultua-la a ponto de torna-la completamente inviável e inútil".

Maluf e Flávio estão presos como supostos beneficiários da conta Chanani, que movimentou US$ 161 milhões em Nova York. São acusados por corrupção passiva, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. "Quer pela absoluta necessidade de preservar-se a higidez da instrução processual, quer pela magnitude da lesão causada, reputo indispensável o decreto de prisão preventiva de Maluf e Flávio", sentenciou a juíza federal. Ela também mandou abrir inquérito policial para investigar outro filho de Maluf, Octávio. Relatório da análise pericial da PF apurou a existência de conta no exterior em nome de Octávio.

HABEAS CORPUS

Ontem, os criminalistas José Roberto Batochio e Guilherme Octávio Batochio apresentaram habeas corpus ao Tribunal Regional Federal pedindo revogação da prisão de Flávio Maluf. Eles sustentam "absoluta incompetência da autoridade policial que presidiu as investigações e a inequívoca falta de fundamentação da decisão que decretou a custódia". Os Batochio denunciam "o Estado policialesco" e protestam contra a decisão judicial que não lhes permitiu acesso aos grampos telefônicos da PF. "A prisão configura violência inominável", destacam os criminalistas. "Periclitam suas empresas, seus negócios e os postos de trabalho de milhares de brasileiros", advertem.