Título: Má gestão provoca crise mundial
Autor: Karine Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/09/2005, Vida&, p. A17

Diretor de Iniciativas Globais para o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), o brasileiro Luiz Loures alerta que o uso inadequado dos recursos disponíveis para o combate à doença está pondo o mundo diante de uma nova crise. No Rio para participar de evento da Unaids que reúne 14 países para traçar estratégias que reduzam o impacto global da aids, ele chama a atenção para a urgência de um pacto entre governos, sociedade civil e doadores que viabilize um melhor aproveitamento dos US$ 8 bilhões estimados para este ano. A meta é diminuir, assim, os problemas de gestão dos programas de prevenção e tratamento e as situações como a fuga de recursos humanos dos países em desenvolvimento para grandes potências.

"Qual o sentido de ter o dinheiro se ele não é aplicado de forma eficiente?", questiona, ressaltando a importância de uma ação imediata que impeça novos erros. "O erro em aids leva à explosão dos novos casos. A gente já viu isso antes. Seja o erro de não usar evidências científicas ou de não ter uma gestão apropriada dos programas. O preço que a gente paga quando erra no desenvolvimento de ações para combate à doença é extremamente grande", afirmou ao Estado.

Exemplo de erro, diz ele, é o caso do Leste Europeu, onde a aids tem crescido de forma vertiginosa, principalmente entre consumidores de drogas injetáveis, e hoje já está se disseminando entre os heterossexuais. "Isso está acontecendo porque nós deixamos de tomar as medidas necessárias. Porque não houve força política, não houve decisão para se tomar as ações necessárias para os usuários de drogas injetáveis. O preço, então, foi a explosão da aids."

Segundo ele, a gravidade da situação mundial, que enfrenta uma epidemia crescente, é motivo suficiente para que os conflitos entre os países sejam superados em nome de um objetivo comum. "O que não pode deixar de acontecer é a negociação."

O pacto entre os parceiros, diz ele, é fundamental para que a meta de universalizar o acesso ao tratamento até 2010 seja alcançada. "O tempo em aids é muito curto. 2010 é amanhã. Precisamos, agora, de uma melhor coordenação das ações para otimizar o uso dos recursos disponíveis."