Título: SP, uma cidade hostil para 3 milhões
Autor: Bárbara Souza
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2005, Metrópole, p. C1

São Paulo é uma cidade deficiente para 3 milhões de pessoas que, estima-se, têm alguma limitação, definitiva ou temporária, para se locomover. Quem usa cadeira de rodas, muletas ou bengala, além de pessoas idosas, grávidas e obesos, precisa driblar calçadas esburacadas, falta de guias rebaixadas e acessos estreitos ou sem rampas. A metrópole é tão hostil aos deficientes que fica até difícil encontrá-los nas ruas. 'As pessoas se isolam', diz a psicóloga Tatiana Rolim, de 28 anos. Paraplégica há 11, ela aponta como motivo dessa ausência o receio do deficiente de se acidentar na rua. 'Fui atropelada quando andava de bicicleta.

Imagina se sofro um novo acidente por precisar andar de cadeira de rodas na rua.' Os números refletem o despreparo da cidade. De uma frota de 15 mil ônibus, apenas 541 são adaptados aos passageiros com dificuldades de locomoção. Somente duas linhas do metrô, Paulista e Capão Redondo, foram construídas com algum padrão de acessibilidade - projetos de reforma das demais ainda não saíram do papel.

Tarefas corriqueiras, como empurrar carrinhos de compras ou de bebês, tornam-se um calvário na cidade. Acostumada à planície de Praia Grande, a fisioterapeuta Maria Teresa Barpinelli tem duas novas experiências na capital: desviar das armadilhas enquanto empurra o carrinho da filha Giovanna, de 2 anos, e aconselhar os pacientes a tomarem cuidado ao caminhar em São Paulo. 'As ruas são esburacadas, as calçadas não têm rebaixamento', diz.

Mas nem todas as pessoas com problemas de locomoção têm coragem de encarar as dificuldades da capital. Muitas vezes, preferem não sair de casa. 'Quanto mais o deficiente se restringe, menos a bandeira dessa causa é levada ao restante da população', afirma o diretor-clínico da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), Antonio Carlos Fernandes.

Para especialistas, é necessário derrubar duas barreiras: a física e a de atitude. 'Não adianta ter rampa, se o local não sabe nos atender como atende qualquer cidadão', diz Edison Passafaro, coordenador do curso de acessibilidade do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-SP).

Conforme o Censo de 2000, 25 milhões de brasileiros têm alguma limitação ou deficiência física. Na cidade de São Paulo, são 1.865.750 pessoas com algum tipo de deficiência física. A expectativa de aumento da população acima dos 60 anos em países em desenvolvimento, como o Brasil, e o crescente número de vítimas da violência que se tornam deficientes são dois fatores que deixam esse quadro mais preocupante.