Título: Nas indústrias, só houve ´uma leve desaceleração´
Autor: Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2005, Economia & Negócios, p. B3

Economistas especializados em indústria ouvidos pelo Estado não acreditam que tenha ocorrido uma parada brusca da indústria em julho, mas uma desaceleração mais suave. Eles também avaliam que a crise política não é causa para a queda da produção industrial de 2,5% de junho para julho divulgada quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para o coordenador da da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI) , Flávio Castelo Branco, 'não houve nenhum fato capaz de impactar tanto a produção industrial em julho'.

A crise política não seria um fator desse tipo, segundo o economista, porque ela 'não afeta o dia-a-dia da economia, mas sim as expectativas para o futuro e decisões de investimento'. Por isso, Castelo Branco considera que 'a intensidade da queda do indicador do IBGE deve ter sido provocada basicamente pela menor quantidade de dias úteis em julho que em junho'.

A CNI também apurou recuo da produção industrial no período, mas de 0,33%. 'Nós fazemos a correção de dias úteis', afirmou Castelo Branco.

A diferença de dias úteis foi mencionado também pela chefe da Assessoria Econômica da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Luciana Marques de Sá, e pelo economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Aloísio Campelo Júnior, responsável pela Sondagem da Indústria de Transformação.

Os dois argumentam que é melhor analisar a conjuntura em períodos mais longos e usando maior quantidade de indicadores.

Campelo lembrou que a Sondagem vem apontando desaceleração desde o início do ano e que a edição de julho trazia informações como as de estoques acima do desejado e avaliação 'não favorável' para a demanda. 'A Sondagem apontava uma deterioração, mas muito discreta, não uma queda brusca', disse.

Luciana considera que o aumento da taxa básica de juros, a Selic, promovido pelo Banco Central entre setembro do ano passado e maio é o fator principal para explicar a redução da produção no terceiro trimestre.

Ela avalia que o impacto da alta dos juros na economia, que sempre ocorre com alguma defasagem, teria sido maior e vindo anteriormente se não fosse a expansão do crédito e das exportações. 'Com esses juros, era para ter tido um crescimento econômico muito menor este ano, mas houve uma explosão de crédito que fez o aumento do PIB no segundo trimestre ser maior do que se esperava', disse a economista.

Segundo Castelo Branco, 'é natural que depois de um segundo trimestre muito forte, tenha uma acomodação no terceiro trimestre'. Essa expectativa para o terceiro trimestre é dos três. Os economistas das entidades industriais esperam um quarto trimestre de maior crescimento, com redução da taxa Selic a partir deste mês.

Luciana dá mais um argumento para o otimismo com o fim do ano. De acordo com ela, 'os índices de confiança já começam a mostrar que os empresários estão percebendo que a economia está muito mais forte do que se imaginava e que a política econômica deve continuar até o fim de 2006, a não ser que a crise fique muito mais grave com um impeachment do Lula'.

Ela comentou ainda que em pesquisa da Firjan com 118 empresas ouvidas entre a segunda metade de julho e a primeira de agosto, divulgada sexta-feira, apenas 17,8% disseram que não estão investindo em 2005.