Título: 'Não se trata de venda de mão-de-obra barata'
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2005, Economia & Negócios, p. B5

Segundo a Fundação de Amparo ao Preso (Funap), das 135 unidades penais no Estado de São Paulo, cerca de 70 têm alguma atividade remunerada para os detentos. O diretor da Funap, Marcio Martinelli, diz que muitas empresas estão perdendo o receio de atuar dentro dos presídios. 'Não falamos apenas das vantagens econômicas, pois não se trata de venda de mão-de-obra barata, mas de sensibilizar o empresário por uma causa.'

No Presídio Adriano Marrey há 1,9 mil detentos e 142 deles trabalham para empresas privadas. Além da Bognar, tem linhas internas de produção a Sanilar (embalagem de produtos de higiene), Varal Comum e Varal-Fix (prendedores de roupas) e Labigplastic (clips para cartões de identificação).

Outros 137 presos realizam serviços de apoio como faxina e cozinha. Seus salários são pagos com um porcentual do que recebe o pessoal das empresas privadas.

Nos últimos anos, ocorreram duas rebeliões no presídio. Uma foi em 2001, quando o Primeiro Comando da Capital (PCC) coordenou protestos simultâneos em todo o Estado. A outra foi em junho, quando um grupo de detentos teve frustrada uma tentativa de fuga.

'O galpão onde está a Bognar foi invadido, mas não mexeram em nenhum parafuso', conta Juarez Benedito Ferreira Alves, diretor do Centro de Produção e Qualificação Profissional do presídio. 'Isso demonstra o respeito que eles têm por quem trabalha.'

O diretor do Núcleo de Oficina, Gilson de Moraes, admite que muitas empresas querem se aproveitar da situação para pagar salários bem inferiores aos da Bognar, mas a administração do presídio procura negociar melhores condições.

'Teve uma metalúrgica que ficou aqui uns tempos e oferecia R$ 14 aos presos. Não queria fornecer protetores de ouvido, luvas nem assumir gastos com energia elétrica', conta.

'Não é porque são sentenciados que vão aceitar o chicote', acrescenta Alves, que ajuda a selecionar os presos que vão trabalhar.