Título: O Brasil ganha posições
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2005, Notas e Informações, p. A3

O Brasil é um dos cinco melhores destinos para investimentos diretos em 2005-2008, segundo pesquisa da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad). A novidade chama a atenção principalmente porque no ano passado o País não aparecia entre os 11 mais cotados na classificação global. Só pode haver uma explicação para o destaque alcançado neste ano, segundo um dos coordenadores do estudo, James Zhan: a estabilidade obtida graças à firmeza da orientação econômica. A maior parte dos especialistas e das grandes empresas, segundo o levantamento, aposta na expansão do investimento direto nos próximos anos. Mas sobra um alerta. O cenário poderá ser modificado pela instabilidade financeira de algumas das principais economias - uma referência provável aos Estados Unidos -, pelo protecionismo, pela instabilidade de preços do petróleo e de outras matérias-primas e pelo terrorismo.

O governo brasileiro deveria ficar atento a outro alerta contido no levantamento. A disputa pelos capitais disponíveis no mercado internacional tende a ser mais intensa, de acordo com as agências de promoção de investimento consultadas na pesquisa. As agências pretendem anunciar novas medidas para atração de recursos e cuidarão principalmente de adotar políticas com metas mais definidas.

A pesquisa mostra uma notável constância das avaliações no topo da lista. Em 2004, China, Índia e Estados Unidos foram, nessa ordem, os primeiros colocados. Neste ano, China, Estados Unidos e Índia são os melhores destinos de investimento segundo os especialistas consultados.

A relação baseada nas avaliações de empresas transnacionais aponta os mesmos países noutra seqüência, China, Índia e Estados Unidos. O Brasil aparece em quarto lugar na classificação dos especialistas e em quinto na outra.

A maioria dos demais classificados nas dez primeiras posições também estava presente no quadro divulgado em 2004. Pode-se presumir, portanto, uma considerável coerência nos padrões de julgamento.

Seis dos 10 países classificados em cada relação, a dos especialistas e a das empresas transnacionais, são emergentes ou recém-convertidos ao capitalismo. China, Índia, Brasil, Rússia, Polônia e Ucrânia aparecem na primeira. A segunda inclui México e Tailândia, mas não Polônia e Ucrânia. A China lidera a corrida com enorme vantagem. Recebeu 85% dos votos numa das listas e 87% na outra. A Índia obteve 42% na primeira e 51% na segunda. O Brasil ficou bem atrás, com 24% dos votos na relação dos especialistas e 20% na das empresas transnacionais.

O governo deveria dar atenção também a essa diferença entre o Brasil e os países mais cotados como destinos de investimento direto. Não basta o País aparecer na lista dos mais votados. É preciso analisar e levar em conta os fatores de atração dos demais emergentes e formular políticas para captação de investimentos de alta qualidade, comprometidos preferencialmente com o comércio internacional e com a modernização tecnológica.

Mão-de-obra mais barata que a do mundo rico e grande mercado interno já não são vantagens tão consideráveis. China e Índia também apresentam esses atrativos, mas, acima de tudo, são economias empenhadas em ganhar espaço no comércio global, a começar pelos mercados mais desenvolvidos.

De modo geral, os emergentes incluídos nas duas listas oferecem menores custos trabalhistas, boa base industrial e, na maior parte dos casos, comércio exterior dinâmico. Os fundamentos econômicos, na maior parte dos casos, são aceitáveis, embora os ajustes e reformas permaneçam incompletos em alguns países.

Quase todos, nos últimos dez anos, apresentaram rápido crescimento econômico. Todos têm mostrado grande receptividade ao capital estrangeiro e criado condições para absorção de tecnologia. Sem exceção, têm procurado, com realismo, os caminhos de integração no mundo mais avançado e mais dinâmico, sem misturar comércio e bandeiras ideológicas. Essas características - somadas à indispensável estabilidade - serão ainda mais importantes se o capital, como temem alguns especialistas, se tornar mais arisco no mercado internacional.