Título: PT teme fraudes em eleições internas
Autor: Guilherme Evelin e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2005, Nacional, p. A5

O PT irá às urnas no próximo domingo com medo de fraudes no Processo de Eleição Direta (PED) que definirá quase 83 mil novos dirigentes nas instâncias municipais, estaduais e nacional. Os candidatos a presidente de oposição ao Campo Majoritário - principal grupo de comando petista - fizeram um pacto para unificar e ampliar a fiscalização contra o transporte de eleitores e pagamento do dízimo de filiados. Uma variação do velhíssimo voto de cabresto, pois uma das regras da eleição petista é que só vota quem estiver em dia com suas contribuições partidárias. O risco aparece associado às filiações em massa. São adesões patrocinadas sem comprometimento ideológico há pelo menos um ano, prazo de 'carência' para que o militante possa participar do PED. São artimanhas 'comuns' no PT, reconhece o presidente interino, Tarso Genro. 'Todas as correntes fazem esse tipo de coisa. Não é uma prática exclusiva da maioria', explica Tarso. 'A cultura política, a cultura de disputa que está no partido hoje, na minha opinião, não é positiva. Não é uma cultura de esquerda ainda, é quase de um partido tradicional.' Segundo ele, o fato de a eleição no PT ocorrer em meio à maior crise da sua história torna incerto o grau de interferência do poder econômico e político das correntes no resultado do PED.

'Esse processo eleitoral ocorre em momento de impacto político forte. Não sabemos como ele vai ocorrer. Tomara que esse impacto ajude a que o processo seja maduro e sóbrio', afirma Tarso.

A deputada Maria do Rosário (RS), candidata do Movimento PT à presidência, diz ter ouvido em vários Estados onde fez campanha relatos sobre a hipótese de fraudes: 'Convocamos a militância para ficar vigilante.' Coordenador da chapa Coragem de Mudar, o secretário de Formação Política do PT, Joaquim Soriano, justifica o temor de irregularidades com base na experiência de eleições anteriores.'Identificamos carregamento de filiados e pagamento de contribuição, o que prejudica muito a democracia interna', afirma Soriano.

Por sugestão de Plínio de Arruda Sampaio, candidato da chapa Esperança Militante, todos os concorrentes à presidência se comprometeram a não transportar eleitores nem quitar cotas em atraso. A taxa paga pela maioria dos filiados é de R$ 5 por ano. Apesar do pacto, o candidato da corrente O Trabalho, Markus Sokol, se queixa de que o poder econômico já contaminou o processo eleitoral. 'A eleição é escandalosa. O PED está em crise da mesma forma que o partido'. Ele reclama que as teses das chapas não foram distribuídas para os filiados pelo Diretório, como manda o estatuto, e alguns candidatos dispõem de estruturas de cargos e mandatos para viajar pelo País e imprimir panfletos - enquanto outros não.

Falido, o PT enxugou o orçamento das eleições de R$ 3 milhões para menos de R$ 800 mil, com a promessa de reembolso para as despesas dos candidatos nacionais.

ALARMISMO

Para o coordenador do PED e secretário de Mobilização da legenda, Francisco Campos, há alarmismo no temor sobre fraudes. 'Temos meios para superar qualquer problema. Não haverá nada que possa colocar o resultado sob suspeição', assegura Campos. 'Os candidatos podem ficar tranqüilos; tratem de fazer campanha e ganhar no voto.' 'Minha preocupação maior não é o impacto no resultado da eleição, mas a corrosão das relações internas do PT com as práticas fraudulentas. Com a crise, não só os petistas vão fiscalizar, mas toda a sociedade', acredita Valter Pomar, da Articulação de Esquerda.

A Comissão Eleitoral tem hoje 22 recursos de filiações ou inscrição de chapas pendentes de julgamento no Diretório. Entre eles, um caso curioso. Em Tupaciguara (MG), há 137 filiados com endereço idêntico. Segundo Gilberto Neves, da Democracia Socialista, foram patrocinadas por aliados de um deputado estadual ligado ao Campo. A executiva do PT mineiro suspendeu as filiações, que já constam do cadastro do PED, mas poderá validálas se constatar que as assinaturas têm grafias distintas. A palavra final sobre o caso cabe agora ao Diretório Nacional. 'O problema (fraudes) atinge todas as correntes', diz o secretário de Organização do PT e um dos coordenadores do Campo, Gleber Naime.

'Não há no Campo nenhuma intenção de fraudar resultados.' As regras do PED, que permitem recursos a todas as instâncias do partido (municipal, estadual e nacional), sustenta ele, coíbem abusos. 'Se temos milhares de filiados, de cargos em disputa e só 22 recursos, os problemas são proporcionalmente muito pequenos.'?