Título: Partido pode ruir, abalado por mesadas e desfiliações
Autor: Diego Escosteguy e Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2005, Nacional, p. A10

A iminente queda política do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), e o envolvimento direto de vários integrantes da cúpula do PP nas denúncias de mensalão, coloca em risco o futuro da legenda. Figuras importantes da história do partido, que já foi Arena, PDS, PPR, PPB, como os ex-ministros Delfim Netto (SP) e Pratini de Moraes (RS), já anunciaram suas desfiliações e o processo deve se intensificar nas próximas semanas. Na madrugada de ontem, mais um golpe para a legenda, com a prisão do ex-prefeito Paulo Maluf. Para tentar reduzir os efeitos desse terremoto interno, um grupo de integrantes do PP já se articula para lutar pelo comando do partido. Na última semana, políticos como o ex-governador de Santa Catarina Esperidião Amin, o ex-prefeito de Santos Beto Mansur e os deputados Ricardo Barros (PR) e Leodegar Tikoski (SC) já se reuniram para traçar uma estratégia de reação interna. 'É um momento de crise, mas também é uma oportunidade de depuração', afirma Esperidião Amin, ex-presidente do partido, que chegou a disputar a Presidência em 1994, pelo então PPR. 'Esse processo vai diminuir o partido? Vai. Mas também vai melhorá-lo. Acho que não será o fim, mas um recomeço', avalia.

Descendente direto de Arena e PDS, o PP passou os últimos anos se enfraquecendo politicamente e tentando se descolar da imagem de partido de direita. Até a surpreendente vitória de Severino para a presidência da Câmara, o partido se mantinha como uma força política intermediária e com uma bancada média na Casa.

PROCESSO

A vitória de Severino, no início do ano, abriu espaços políticos para o deputado e seus principais aliados no governo, em troca de um apoio no Congresso que nunca se materializou. O PP chegou a ganhar o Ministério de Cidades com Márcio Fortes, de perfil técnico. O acordo implodiu com o processo de cassação de quatro dos principais deputados do partido - o presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), o líder do partido na Câmara, José Janene (PR), o ex-líder da Câmara, Pedro Henry (MT), e Vadão Gomes (SP).

A situação se deteriorou de vez com o envolvimento de Severino com a suposta cobrança de propina para permitir a renovação do contrato do restaurante da Câmara.

Amin reconhece que a saída de quadros importantes é um efeito colateral da crise que a legenda atravessa. Ele saiu do partido quando houve a aliança com o governo Lula e diz entender que outros saiam agora, em protesto contra o mensalão.