Título: Novo depoimento de Valério deixa deputados do PP à beira da cassação
Autor: Diego Escosteguy e Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2005, Nacional, p. A10

Na reta final para definir seu futuro político no Congresso, os deputados do PP José Janene (PR) e Vadão Gomes (SP), acusados de participar do esquema de mensalão, tiveram sua situação agravada ainda mais pelo último depoimento do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza à Polícia Federal. No depoimento, ao qual o Estado teve acesso, Valério revelou que Janene foi o responsável pela indicação da corretora Bônus-Banval para intermediar pagamentos dele ao PT. O empresário afirmou que o dinheiro remetido à corretora também foi repassado ao PL e ao PP. Sobre Vadão Gomes, Valério revelou que lhe fez vários pagamentos pessoalmente. Os repasses somam R$ 3,7 milhões, em vários encontros realizados em hotéis, dos quais o empresário disse não lembrar do nome.

Os deputados esperavam ser absolvidos pelo plenário da Câmara. É que até agora Valério se limitara a contar que Vadão era um dos sacadores de recursos, sem dar detalhes, e nunca falara da relação de Janene com a Bônus-Banval. Dizia apenas que o dinheiro repassado à corretora ia para petistas indicados por Delúbio Soares, então tesoureiro do partido.

No depoimento, dado ao delegado da PF Luiz Flávio Zampronha, Valério admitiu que Janene o apresentou a Enivaldo Quadrado, um dos donos da BônusBanval, e recomendou sua intermediação para os pagamentos. O empresário contou que teve reuniões com Janene e Quadrado para acertar repasses ao PP.

Nos encontros também estaria presente João Cláudio Genu, chefe de gabinete de Janene. A corretora, disse Valério, recebeu R$ 10 milhões das contas de suas empresas 2S Participações e Rogério Lanza Tolentino Associados - R$ 1,2 milhão teria ido para o PP, R$ 900 mil para o PL e o resto para dirigentes petistas. Ele contou que teve três reuniões com Delúbio e o dono da corretora para acertar repasses. Duas teriam ocorrido na sede do PT em São Paulo e a último, numa lanchonete do Aeroporto de Congonhas. O empresário admitiu que esteve na sede da Bônus-Banval 'em três ou quatro oportunidades'.

No mesmo depoimento, Valério contou ainda que transferia os recursos para a BônusBanval por meio de depósitos eletrônicos ou cheques nominais. Ele garantiu que todos os repasses tinham o beneplácito do ex-tesoureiro do PT.

COSTA NETO

O novo depoimento do empresário também enfraquece a defesa do ex-deputado Valdemar da Costa Neto, responsável pela distribuição do dinheiro no PL. Segundo Valério, a corretora Guaranhuns, que intermediou repasses para o partido, foi indicada pelo tesoureiro do PL, Jacinto Lamas, porque 'era de confiança' de Costa Neto. O empresário afirmou que os R$ 6 milhões depositados na corretora foram entregues a pessoas indicadas por Costa Neto ou Lamas. O ex-deputado garantira na CPI dos Correios que todo o dinheiro recebido fora canalizado para pagamento de dívidas com fornecedores da campanha de Lula em 2002.

OTIMISMO

Tanto Janene como Vadão terão mais dificuldades agora para escapar da cassação do mandato por quebra de decoro parlamentar. Na avaliação de integrantes da CPI, as novas revelações de Valério aumentam o vínculo dos dois com o suposto esquema de irregularidades. Eles já vêm mantendo intensos contatos políticos para tentar impedir a perda de mandato. Como o voto é secreto, apostam que podem ser absolvidos pelos colegas da Câmara.

Janene nem disfarçava o otimismo. Nos últimos dias, andava pelos corredores da Casa cantarolando, ironicamente, o 'tema da CPI', paródia feita pelo Programa do Jô. Agora, com o novo depoimento de Valério, os dois podem optar pela renúncia ao mandato para escapar à cassação, com a conseqüente inelegibilidade e perda de direitos políticos por 8 anos.

Mas eles têm só até terça-feira para renunciar. Depois dessa data, o corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), terá enviado todos os processos de cassação para o Conselho de Ética e, regimentalmente, a renúncia passará a ser proibida. José Janene preferiu não comentar as novas acusações de Valério. A reportagem deixou recado para o deputado Vadão Gomes no gabinete dele em Brasília e no frigorífico que lhe pertence em São Paulo. As secretárias disseram que ele está em viagem e incomunicável.