Título: Severino chega e nega renúncia
Autor: João Unes e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2005, Nacional, p. A11

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), disse que está sendo vítima da ação de políticos da situação e da oposição e as denúncias contra ele são uma tentativa de desviar o foco das investigações do mensalão. 'Essas inverdades a meu respeito estão sendo postas na imprensa para desviar o foco dos outros deputados que estão sofrendo processo de cassação', afirmou. 'E conseguiram. Hoje, ninguém mais fala em cassação dos deputados, só se fala em tirar o Severino da presidência da Câmara', prosseguiu, durante o vôo 951 da American Airlines, que o trouxe de Nova York a São Paulo ontem. 'O que acontece na realidade da Câmara é que minha postura independente incomoda tanto políticos da situação como da oposição. Mas eles não vão conseguir me tirar do caminho', avisou.

'Os 18 deputados que estão na lista da CPI serão levados a plenário.' Ao lado da mulher, Amélia, Severino rejeitou enfaticamente a hipótese de se licenciar do cargo. Ao contrário de sexta-feira, em Nova York, quando admitira a possibilidade em entrevista coletiva. Ele é acusado pelo empresário Sebastião Augusto Buani de cobrar propina para prorrogar concessão de um de seus restaurantes na Câmara. 'Não vou pedir licença, não há motivo para isso', insistiu Severino. Em seguida, desqualificou de novo Buani, como já fizera na sexta.

'A pessoa que me acusa com inverdades não tem credibilidade, num dia diz uma coisa, no outro muda a versão.' Ele deve falar hoje, em entrevista, sobre seu futuro. Na sexta-feira, avisou que 'jamais' vai renunciar ao mandato.

Severino deveria embarcar para São Paulo pela Varig. Por conta do cancelamento do vôo, foi acomodado na primeira classe da American Airlines com a mulher. Ele chegou às 9h15 em São Paulo. Aproveitou o status de autoridade para não transitar pela área de desembarque do Aeroporto internacional de Guarulhos, evitando a imprensa até ir para Brasília, onde chegou por volta do meio-dia.

Pouco depois, em casa, já recebia colaboradores, entre eles Marcos Cezar Vasconcelos, assessor jurídico da Câmara. O advogado José Eduardo Alckmin, que assumiu sua defesa, também chegou e a reunião se estendeu por toda a tarde. Antes de entrar, Alckmin disse que o julgamento de Severino não pode obedecer a interesses políticos. 'Essa preponderância do fator político não se deve aceitar. Não se pode cassar alguém em função de interesses políticos e o que se tem de buscar é a justiça.

É preciso saber se houve ou não irregularidade e isso se dá através de critérios técnicos.' Depois da reunião, Alckmin informou que Severino não vai pedir licença. 'A intenção dele é manter-se no cargo e se defender. O que espera é que seus pares e a Nação tenham ouvidos e boa vontade para ouvir sua defesa e não fazer prejulgamentos.

' Segundo ele, o deputado'garante não ter lembrança de ter assinado o documento' que prorroga a concessão do restaurante de Buani, de 2002. Mais cedo, afirmara ver indícios de fraude no papel. Sobre o cheque que Buani disse ter pago como propina, Alckmin contou que Severino nega sua existência. 'Ele não tem temor quanto a isso.' Buani prometeu apresentar cópia do cheque, como prova.

CONSPIRAÇÃO

'É uma armação contra Severino', disse Alckmin. Ele explicou que o deputado sabe que o julgamento do Congresso é político e vai se preparar para fazer sua defesa política. E entrará na Justiça contra os que o caluniaram, incluindo Buani.

Vasconcelos também contou que Severino está convicto de que é falso o documento que prorroga a concessão de Buani. 'O documento é falso. Não é a assinatura do presidente Severino', disse. Ele garantiu que o deputado vai esclarecer as denúncias na entrevista de hoje. 'Há uma conspiração imensa.

Severino quer esclarecer a campanha sórdida que se move contra ele. Esse empresário desonesto pode estar servindo, por ser desonesto, de instrumento de outras forças', acusou. 'A prova é a palavra de um cara que acabou de perder o contrato com a Câmara para exploração de restaurantes por inadimplência. Ele está devendo mais de R$ 150 mil só em multas e não paga. Está devendo os aluguéis e não paga.' Na sua opinião, Buani não apresentou o cheque que teria sido dado a Severino 'porque não existe esse cheque'.

'Afirmo isso com convicção.'