Título: Algemado, Flávio Maluf chega à carceragem da Polícia Federal
Autor: Rodrigo Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2005, Nacional, p. A12

Flávio Maluf, filho do ex-prefeito Paulo Maluf, chegou algemado na manhã de ontem à Superintendência da Polícia Federal em São Paulo. Ele teve sua prisão preventiva decretada pela juíza Silvia Maria Rocha, da 2ª Vara Federal Criminal, e veio escoltado por quatro viaturas da PF. Um motorista, um segurança e seu advogado acompanharam a operação em uma picape particular de Flávio, que estava bastante abatido. 'Estou me apresentando, confio na Justiça. Não sou fugitivo, não sou foragido. Vou me defender, mostrar que não há motivos para a minha prisão', disse.

A prisão de Maluf e Flávio foi pedida pela juíza para 'conveniência da instrução criminal'. Os dois estariam agindo ativamente na ocultação de provas e intimidação de testemunhas na investigação sobre US$ 161 milhões que teriam enviado para os Estados Unidos. Pesam sobre os Maluf a suspeita de envolvimento em crime financeiro (evasão de divisas), formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Paulo Maluf se apresentou e ficou detido na madrugada do sábado.

Flávio combinou com a PF, também na madrugada de sábado, se entregar logo de manhã. Ele veio num helicóptero da Eucatex - empresa da família da qual é diretor - de sua fazenda, na região de Araraquara, acompanhado de dois agentes da PF.

Antes de chegar em São Paulo, fizeram uma escala em Avaré para buscar seu advogado criminal, José Roberto Batochio. Na capital, Flávio foi algemado, o que Batochio considerou 'humilhante' e 'absolutamente desnecessário'. '(Flávio) não é perigoso, não é violento, não é nada, mas disseram (aPF) assim: ´Trata-se de procedimento padrão. Aqui nós gostamos e queremos algemar todo mundo.´ Fazer o que, não é?', relatou. 'Talvez a necessidade (da PF) fazer algum show, não é?'

QUEIXA

Batochio afirmou aos jornalistas que os Maluf não tiveram direito de defesa e a prisão foi desnecessária. Disse que os dois se queixaram como vítimas de extorsão do doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi. 'E num caso de extorsão, todos nós sabemos, o que se faz é dar corda ao extorsionário', justificou. 'Alguém que procura o Maluf, fez isso por quê? Para praticar extorsão', endossou o advogado de Maluf José Roberto Leal.

Batochio reclamou do uso do doleiro como testemunha contra os Maluf. 'Ele é réu, ele será réu e ainda que seja aceito o perdão ou redução da pena (por delação premiada) ele continuará réu. Portanto não é testemunha', disse. 'Como um réu pode ser testemunha?', questionou o advogado cível dos Maluf, Ricardo Tosto. 'Essa deve ser uma das linhas da defesa.' Flávio ainda foi ao Instituto Médico Legal (IML) fazer o exame de corpo de delito. Retornou à PF sem algemas, mas desta vez para a carceragem. Sua mulher, a advogada Jaqueline Maluf, o visitou às 16h10.

Levava uma mala e uma sacola com água de coco. Ficou pouco mais de uma hora e ao sair parecia tranqüila. 'Graças a Deus estamos todos bem', disse. O secretário do ex-prefeito, Roque Carneiro, levou malas e colchonetes. 'Sou seu secretário há 38 anos', disse, orgulhoso.