Título: PF acha que Maluf protege Duda
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2005, Nacional, p. A13

A Polícia Federal e a Procuradoria da República suspeitam que Paulo Maluf e seu filho mais velho, Flávio, agiram decididamente para tentar impedir a identificação de outras pessoas envolvidas com a remessa ilegal de US$ 161 milhões para a conta Chanani, no Safra National Bank de Nova York. O exprefeito e Flávio querem evitar que a investigação aponte para um banqueiro e para um publicitário - que seria Duda Mendonça, marqueteiro de Maluf na campanha de 1998, ano em que a conta foi aberta nos Estados Unidos. Duda também teria recebido pelo menos US$ 5,88 milhões da Chanani. Para a PF e para a procuradoria, os Maluf temem que o banqueiro e o publicitário, sob cerco, revelem detalhes sobre a origem dos depósitos na Chanani, que foi operada pelo doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi. 'Tem muito mais gente que deveria ir para a cadeia nessa história', anotou o procurador da República Pedro Barbosa Pereira Neto, que comanda o cerco ao exprefeito Maluf.

Também está na mira da investigação um funcionário da Justiça, que teria liberado para os Maluf cópias de documentos da PF. Grampo telefônico flagrou o servidor conversando com advogados. A escuta está sendo transcrita e analisada pela área de inteligência da PF.

DE PROPÓSITO

Para o promotor de Justiça Silvio Antonio Marques, algoz dos Maluf, a divulgação de cópia do inquérito da PF foi feita de forma deliberada pela assessoria do ex-prefeito 'para prejudicar o Brasil perante autoridades judiciais e financeiras de países que estão dispostos a colaborar com investigações desse gênero'. Esses países não admitem publicidade sobre documentos confidenciais. 'Fizeram isso de propósito para colocar o Ministério Público em situação complicada', alerta Marques.

O procurador Barbosa Neto é o autor do pedido de prisão preventiva dos Maluf. Em meio aos documentos que ele juntou à denúncia criminal - acusando o ex-prefeito e Flávio de formação de quadrilha, corrupção passiva, crime contra o sistema financeiro (evasão de divisas) e lavagem de dinheiro ilícito -, o procurador juntou extratos do Safra Bank que a Promotoria de Manhattan entregou ao governo brasileiro. Os papéis bancários mostram sete remessas de US$ 840 mil cada uma, realizadas pelo sistema dólar cabo - transferências da Chanani em favor da offshore Heritage Finance Trust, que seria controlada por Maluf, no Citibank NY. Esse dinheiro teria sido destinado a Duda Mendonça. O Ministério Público Federal requereu a quebra do sigilo bancário, telefônico e fiscal do publicitário.

A juíza Silvia Rocha também abriu processo contra o doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, e contra o ex-tesoureiro da empreiteira Mendes Júnior Simeão Damasceno. Birigüi revelou a conta Chanani, Simeão falou do suposto esquema de desvio de verbas públicas na Prefeitura de São Paulo, durante a gestão de Maluf (1993 a 1996).