Título: Hoje é o grande teste de Koizumi
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/09/2005, Internacional, p. A16

O Japão tem hoje uma das eleições para a Câmara Baixa do Parlamento (o equivalente à Câmara de Deputados) mais importantes da sua história. Se as previsões de vitória do Partido Liberal Democrático (PLD) forem confirmadas, Junichiro Koizumi, o primeiro-ministro com jeito de rock star sessentão, sairá da disputa com toda a força que esperava. Terá vencido de uma só vez a oposição e os membros do seu próprio PLD que se opõem às reformas que defende. O resultado das eleições e, principalmente, os seus desdobramentos na área econômica têm potencial para reverberar em várias partes do mundo, até mesmo no Brasil. O Japão é a segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos EUA. Se voltar a apresentar altos índices de crescimento, poderá provocar um efeito 'locomotiva' (puxará junto outras nações).

Para o Brasil, o Japão é o oitavo maior destino das exportações. No ranking dos países que mais investiram no Brasil, ocupa uma honrosa sexta posição. As relações nipo-brasileiras também são estreitas na área social. Cerca de 300 mil brasileiros (quase a população de Vitória, no Espírito Santo) vivem no Japão e formam a terceira maior colônia verde-e-amarela no exterior. Já o Brasil é o país que recebeu mais imigrantes japoneses.

No meio político japonês, muito se falou das reformas necessárias para livrar o país do ritmo de tartaruga, mas pouco se fez. Quando tentou, Koizumi sentiu a resistência de seu próprio partido. O carismático primeiro-ministro lutou pela privatização do Correio, um gigante com US$ 3 trilhões em depósitos, uma soma que equivale a quase seis vezes tudo o que a economia brasileira produz em um ano. Tentou, mas não levou. A proposta foi rejeitada pela Câmara Alta (Senado) no começo de agosto. Como não pode dissolver a Câmara Alta, Koizumi decidiu antecipar as eleições da Câmara Baixa e transformá-las numa espécie de referendo. Após dissolver a Câmara Baixa, Koizumi retirou o apoio de seu partido a 37 políticos que votaram contra seu projeto e recrutou novos candidatos - que incluem celebridades e conhecidos empresários.

O opositor Partido Democrata, mais liberal, vê as eleições como uma chance para acabar com os 50 anos quase ininterruptos do PLD no poder. Como diz Ellis Krauss, professor de Ciências Políticas da Universidade da Califórnia (ver abaixo), seja qual for o resultado final, as eleições de hoje têm potencial para serem um divisor de águas na história recente do Japão.