Título: Empresário entrega extrato à PF e diz que hoje provará mensalinho
Autor: Vanildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/09/2005, Nacional, p. A4

O empresário Sebastião Buani, dono da rede de restaurantes da Câmara dos Deputados, entregou ontem à Polícia Federal o extrato de sua conta bancária do Bradesco, com o saque de R$ 40 mil que ele alega ter feito para pagar ao presidente da Casa, deputado Severino Cavalcante (PP-PE). Na época do saque, 4 de abril de 2002, Severino era 1º secretário da Câmara e, segundo Buani, o suborno teria sido exigido por ele para prorrogar o contrato de exploração do restaurante por mais três anos, sem nova licitação. O dinheiro era uma espécie de sinal do 'mensalinho', a mesada mensal que o empresário passaria a pagar ao parlamentar para não perder a concessão. 'É o primeiro documento que prova que eu falei a verdade: o saque na minha conta, no mesmo dia, 4 de abril, em que ele (Severino) assinou o documento prorrogando o contrato', disse Buani.

No total, o empresário alega ter pago cerca de R$ 128 mil, de janeiro a outubro de 2003. Ele prometeu apresentar hoje a prova mais contundente do achaque que afirma ter sofrido: a cópia microfilmada do único pagamento feito em cheque, em julho de 2003. O presidente da Câmara nega a denúncia e alega que sua assinatura foi falsificada no documento. À tarde, três empregados do restaurante - o maître José Ribamar da Silva e os garçons Hélio Antônio da Silva e Rosenildo Francisco Soares - confirmaram, em depoimento à PF, que levavam a propina ao gabinete de Severino.

Os pacotes com dinheiro eram entregues após o expediente, depois das 15h, e entregues às secretárias do deputado, Ricely Paulo Camacho e Gabriela Kenia da Silva. 'Levei pacotes com dinheiro para a secretária. Não sabia quanto tinha, porque estava lacrado, mas a Gisele (filha de Buani, diretora financeira do restaurante) pedia para ter cuidado porque continha dinheiro', relatou Ribamar.

Ele diz ter feito duas entregas.

Com algumas variações, os dois garçons confirmam a história. 'Não posso dizer que era para Severino, mas a recomendação foi que eu entregasse na primeira secretaria', explicou Hélio, que teria levado três pacotes. 'Sabia que era dinheiro, mas para que eu não sabia', acrescentou Rosenildo, que levou mais um. As demais entregas foram feitas pessoalmente por Buani. Em depoimento na sexta-feira passada, as duas secretárias de Severino negaram tudo.

Buani não soube precisar o valor do cheque que falta, mas imagina uma quantia entre R$ 7 mil e R$ 7,5 mil. Ele pediu a microfilmagem de todos os cheques entre R$ 5 mil e R$ 10 mil emitidos no período, na certeza de que um deles é o de Severino. 'Estou mostrando o mensalão.

Amanhã (hoje), com a cópia do cheque, espero mostrar o mensalinho', disse o empresário, exultante com a chegada de parte dos documentos pedidos ao banco, inclusive o número dos cheques a serem microfilmados. 'Hoje é um dia feliz, cheguei a beijar o gerente do banco', comemorou Buani.